Então

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Jean Manzon




Um dos pioneiros do fotojornalismo no país, o francês Jean Manzon registrou o cotidiano político brasileiro nos anos 40 e 50. Até então novidade para o público, as imagens captadas e expostas na revista O Cruzeiro "revelam sem pudor a intimidade do poder”. De Getúlio Vargas, Manzon trouxe à cena seus auxiliares, entre os quais Gregório Fortunato, o guarda-costas que entraria para a história como mandante do atentado a Carlos Lacerda, opositor de Vargas. O episódio desencadeou uma crise que culminou com o suicídio de Vargas, em 1954:













Manzon foi o fotógrafo que maior acesso teve ao grupo de Vargas. Nesta seqüência cinematográfica, Gregório Fortunato – o guarda-costas mais famoso da história do Brasil, conhecido popularmente como Anjo Negro – aparece lendo serenamente o jornal. Em seu livro de memórias, Manzon descreve Fortunato da seguinte forma: ‘O colosso que comanda a guarda privada de Getúlio Vargas usa um chapéu de feltro, de filme americano, e um paletó xadrez de flanela suficientemente grande para caber a 45, que ele carrega num coldre, e mais dois revólveres que ficam enfiados em sua cintura. Quando ele ri, descobre-se uma praia de dentes brancos’.”




Fortunato, assessor de Getúlio, flagrado por Manzon



Porém, reparem: as fotos não são o Brasil visto por Jean Manzon, e sim o Brasil que se deixou amoldar por Jean Manzon. Cínico diante do modelo, com uma petulância que desarmava qualquer um, fazia com que todos, do ditador Getúlio ao mais inocente xavante, recém-saído do neolítico, posassem, nas poses mais extravagantes. As fotos, absolutamente naturais, são cuidadosamente posadas. Ao contrário de Cartier-Bresson, Manzon não espera "o momento decisivo". Ele o constrói.

A notícia em imagens: em plena ebulição econômica, política e social, o Brasil se reformava e Manzon clicava as mudanças da moda (na Praia de Ipanema), do ideal de beleza, do mercado de trabalho (na pose das telefonistas da Companhia Telefônica Brasileira) e até de Juliette Gréco, a cantora e atriz francesa que ele fez virar musa














Três retratos de brasileiros: misto de técnica e rigidez formal em cenas memoráveis com os irmãos sertanistas Villas-Boas (solenemente contatando índios), Portinari (de charuto e camiseta à la Picasso, primeiro ensaio para O Cruzeiro) e o maestro Villa-Lobos em casa, de pantufas e calça de pijama











Jean Manzon (Paris, 2 de fevereiro de1915 — Reguengos de Monsaraz, 1 de julho de 1990)

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