Então

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Natal é tempo de Guilhobel



Izabel Campana


Meu avô adorava natal. Aliás, adorava todo tipo de algazarra. Festa, folia, carnaval, ou oba-oba, tava lá o Guilhobel. Mas o natal era a coroação de um ano de festas. A Festa-Mor.
Lampadinhas por toda a casa. Eu nunca disse nada, mas por anos temi um incêndio. Pinheiro escolhido a dedo. Alto, cheio e torto. Sempre. Papai Noel atleticano na varanda. Todo ano.
Quanto mais gente melhor. Ninguém que conhecesse o Guilhobel passava natal sozinho. Todos os avulsos convidados. Além da família, que já era grande. Filhos, netos, agregados, ex-maridos, ex-esposas e ex-namorados.
Coração grande, tinha o Guilhobel. Passava meses a elaborar a ceia. Ponto alto da festa. Cozinhava por uma semana. Leitão por dias na vinha d’alho. Era ceia tradicional, pode-se dizer. Mas sempre com o toque de Midas de Seu Guilhoba na cozinha. Peru, tender, rosbife. Cada carne com seu molho. Um ano teve até papo de peru recheado. Invenção do anfitrião.
Mais uma dezena de acompanhamentos. Arroz à grega, farofa, salada. De sobremesa não tratava. Os convidados que trouxessem. E muita bebida. Uísque, na certa.
Fazia questão de guardanapo de pano, elogio e presente. E de um bom papo. Ele tinha uma centena de histórias que contava e recontava, às  vezes rindo, noutras chorando de saudades.
Certa vez foi velar um amigo, ficou bebendo o morto e esqueceu do enterro.
Noutra, resolveu fumar um cigarro enquanto tocava corneta em um desfile de sete de setembro. Levou pito de um padre. O padre levou corneta no cocuruto.
Inventou visão de Nossa Senhora, fez chover peixe em Morretes e instituiu que cantassem o hino de Antonina antes de servir o barreado no seu restaurante.
Grande humor, tinha o Guilhobel.
Me ensinou muito na cozinha. Até hoje penso nele s empre que preparo um prato. Não tire a segunda casca da cebola! Não lave os cogumelos! Não é assim, Regina! Perfeccionista, tinha uma didática muito própria com os ajudantes. Mas comigo sempre foi um doce.

Quando meu marido o conheceu pela primeira vez, levou uma conversa séria com o velho. O vô foi logo avisando. Você vai namorar minha neta? Então tem que aprender uma coisa. Coitado do Lucas. E continuou: tem que aprender a preparar meu uísque. Copo alto, pouco gelo, ...
Lembro dele sempre que meto o pé na cozinha. Com o fim de ano não é diferente. Natal é tempo de Guilhobel. Grande figura, meu avô. 
 Fonte: Revista IDEIAS
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Grande Figura meu Pai  

Hiroshi Sugimoto


Hiroshi Sugimoto nasceu em 1948 e começou a trabalhar com fotografia em 1976. Suas fotos são quase sempre em PB, elas mostram o tempo em si.










mais de Hiroshi Sugimoto aqui

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Nessa Rua


A vida vista como uma caminhada solitária movida pela força de um amor eterno. Uma nova interpretação da cantiga popular "Se essa rua fosse minha".


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O cartaz diz: "Lábios que tocam em bebida jamais tocarão os nossos (lábios)".


Propaganda contra o comércio de bebidas alcoólicas nos EUA, feita em 1919, pouco antes da implementação da Lei Seca



A julgar pelos atributos das modelos, é de se duvidar que alguém tenha se abalado com a ameaça...


fonte:Pé Sujo

VIVAYOU




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Violência contra homossexuais - Drauzio Varella



A HOMOSSEXUALIDADE é uma ilha cercada de ignorância por todos os lados. Nesse sentido, não existe aspecto do comportamento humano que se lhe compare.

Não há descrição de civilização alguma, de qualquer época, que não faça referência a mulheres e a homens homossexuais. Apesar de tal constatação, esse comportamento ainda é chamado de antinatural.

Os que assim o julgam partem do princípio de que a natureza (leia-se Deus) criou os órgãos sexuais para a procriação; portanto, qualquer relacionamento que não envolva pênis e vagina vai contra ela (ou Ele).

Se partirmos de princípio tão frágil, como justificar a prática de sexo anal entre heterossexuais? E o sexo oral? E o beijo na boca? Deus não teria criado a boca para comer e a língua para articular palavras?

Se a homossexualidade fosse apenas uma perversão humana, não seria encontrada em outros animais. Desde o início do século 20, no entanto, ela tem sido descrita em grande variedade de invertebrados e em vertebrados, como répteis, pássaros e mamíferos.

Em alguma fase da vida de virtualmente todas as espécies de pássaros, ocorrem interações homossexuais que, pelo menos entre os machos, ocasionalmente terminam em orgasmo e ejaculação.

Comportamento homossexual foi documentado em fêmeas e machos de ao menos 71 espécies de mamíferos, incluindo ratos, camundongos, hamsters, cobaias, coelhos, porcos-espinhos, cães, gatos, cabritos, gado, porcos, antílopes, carneiros, macacos e até leões, os reis da selva.

A homossexualidade entre primatas não humanos está fartamente documentada na literatura científica. Já em 1914, Hamilton publicou no "Journal of Animal Behaviour" um estudo sobre as tendências sexuais em macacos e babuínos, no qual descreveu intercursos com contato vaginal entre as fêmeas e penetração anal entre os machos dessas espécies. Em 1917, Kempf relatou observações semelhantes.

Masturbação mútua e penetração anal estão no repertório sexual de todos os primatas já estudados, inclusive bonobos e chimpanzés, nossos parentes mais próximos.

Considerar contra a natureza as práticas homossexuais da espécie humana é ignorar todo o conhecimento adquirido pelos etologistas em mais de um século de pesquisas.

Os que se sentem pessoalmente ofendidos pela existência de homossexuais talvez imaginem que eles escolheram pertencer a essa minoria por mero capricho. Quer dizer, num belo dia, pensaram: eu poderia ser heterossexual, mas, como sou sem-vergonha, prefiro me relacionar com pessoas do mesmo sexo.

Não sejamos ridículos; quem escolheria a homossexualidade se pudesse ser como a maioria dominante? Se a vida já é dura para os heterossexuais, imagine para os outros.

A sexualidade não admite opções, simplesmente se impõe. Podemos controlar nosso comportamento; o desejo, jamais. O desejo brota da alma humana, indomável como a água que despenca da cachoeira.

Mais antiga do que a roda, a homossexualidade é tão legítima e inevitável quanto a heterossexualidade. Reprimi-la é ato de violência que deve ser punido de forma exemplar, como alguns países o fazem com o racismo.

Os que se sentem ultrajados pela presença de homossexuais que procurem no âmago das próprias inclinações sexuais as razões para justificar o ultraje. Ao contrário dos conturbados e inseguros, mulheres e homens em paz com a sexualidade pessoal aceitam a alheia com respeito e naturalidade.

Negar a pessoas do mesmo sexo permissão para viverem em uniões estáveis com os mesmos direitos das uniões heterossexuais é uma imposição abusiva que vai contra os princípios mais elementares de justiça social.

Os pastores de almas que se opõem ao casamento entre homossexuais têm o direito de recomendar a seus rebanhos que não o façam, mas não podem ser nazistas a ponto de pretender impor sua vontade aos mais esclarecidos.

Afinal, caro leitor, a menos que suas noites sejam atormentadas por fantasias sexuais inconfessáveis, que diferença faz se a colega de escritório é apaixonada por uma mulher? Se o vizinho dorme com outro homem? Se, ao morrer, o apartamento dele será herdado por um sobrinho ou pelo companheiro com quem viveu por 30 anos?

fonte: artigo de Drauzio Varella foi publicado na sua coluna da "Ilustrada", da Folha de São Paulo, no sábado, 4 de dezembro. 

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Pátria Minha - Chico Buarque, Caetano Veloso, Edu Lobo...



Declamação do poema "Pátria Minha" de Vinicius de Moraes, no Documentário de Miguel Faria Jr. por Chico Buarque, Caetano Veloso, Edu Lobo, Ferreira Gullar, Maria Bethânia e Toquinho


domingo, 5 de dezembro de 2010

Paulo Leminski - Bem no Fundo






Bem no Fundo 
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

Não à plástica






por Laura M. Holson


Nos estúdios dos EUA, surge a ''patrulha'' de profissionais que investiga a fundo se os artistas foram ''recauchutados'


Diversos cineastas e diretores de elenco começam a reavaliar a posição de Hollywood em relação aos implantes de seios, botox, lábios com colágeno injetado e todos os tipos imagináveis de cirurgia plástica.
Executivos de TV da Fox Broadcasting já contratam atores de aspecto mais natural da Austrália e da Grã-Bretanha, para evitar as multidões de artistas americanos, de aparêcia juvenil e estranha, que chegam para fazer testes em Los Angeles - e todos com a mesma cara. "Acho que hoje todas as atrizes parecem drag queens ou strippers", exagera Marcia Shulman, supervisora de casting para shows roteirizados da Fox.
Diretores de elenco, como Mindy Marin, que trabalhou no filme Amor Sem Escalas, de Jason Reitman, agora pedem aos agentes de novos talentos que desencorajem seus clientes a se submeterem a plásticas, particularmente as celebridades de mais idade que, ele afirma, começam a perder oportunidades de trabalho porque sua pele é marcada demais ou inchada pelo uso de produtos cosméticos: "O que quero ver é a coisa real."
Os próprios extras (figurantes) precisam passar por uma avaliação. Sande Alessi, que ajudou a montar o cast da série Piratas do Caribe, costuma tirar fotos das atrizes em trajes de banho para que depois as incluam em seus books. Cortesia profissional? Não exatamente. Os realizadores preferem atrizes com seios naturais para filmes de época e históricos. A ponto de a companhia Walt Disney anunciar recentemente que procurava extras para o novo filme dos Piratas, especificando que só deveriam se candidatar mulheres com seios naturais. Com as fotos das candidatas, disse Alessi, "não precisamos perguntar, podemos ver".
Cosmética. Agora, a nova corrente é "menos é mais", inspirada em tendências sociais e tecnológicas conflitantes, afirmam diretores de cinema e profissionais de TV. A "recauchutagem" cosmética continua na ordem do dia: em 2009, foram realizados nos Estados Unidos 10 milhões de procedimentos cirúrgicos e não cirúrgicos, segundo a Sociedade Americana de Cirurgia Plástica Estética. Ao mesmo tempo, a difusão da televisão de alta definição - e o olho treinado do público curioso - tornou mais fácil perceber os enxertos capilares ou as pálpebras costuradas. Nem os homens, evidentemente, estão imunes à promessa de juventude proporcionada por um escalpelo cirúrgico. Mas são as mulheres, o que não deve surpreender, o alvo das verificações mais minuciosas.
Hoje, o botox é um inimigo na Hollywood embevecida pelo cinema em 3D, nesta era pós-Avatar, em que a capacidade de deformar uma boca a ponto de se transformar numa carranca fechada é tão vital quanto conseguir lembrar dos próprios traços. O mais impressionante é como os jovens se viciaram em cirurgia plástica. Em janeiro, a atriz Heidi Montag, foi capa da revista People exibindo os dez procedimentos plásticos a que se submeteu em um único dia. Ela tem 23 anos.
Ridículas. "A era do "Fiquei maravilhosa porque fiz isto" já passou", disse Shawn Levy, diretora e produtora de Uma Noite Fora de Série e Uma Noite no Museu. "É uma coisa ridícula. Dez anos atrás, as atrizes estavam convencidas de que precisavam fazer plástica para conseguir um papel. Agora, na minha opinião, isso as prejudica."
Na internet, o site de celebridades AwfulPlasticSurgery.com mantém o registro dos que recorreram à plástica, para confirmar as suspeitas quanto a quem fez o quê. Quando Alessi estava escolhendo o elenco de O Curioso Caso de Benjamin Button, em 2007, recebeu centenas de "santinhos". No entanto, algumas das atrizes que chegaram para os testes não se pareciam minimamente com as caras das fotos. "Elas tinham esses lábios grossos e testas congeladas", diz ela.
Um ator pode até perder o papel se um diretor desconfia de uma cirurgia, realizada ou programada. John Papsidera, um diretor de elenco dos filmes da série do Batman, disse que ele e um diretor (cujo nome não quis revelar) debateram recentemente se deveriam contratar ou não uma atriz com pouco mais de 20 anos para o papel de uma adolescente que se apaixona. Era uma jovem talentosa e naturalmente bonita. Mas o que desestimulou os diretores foi a suspeita de que, embora tão nova, ela já tivesse feito implante nos seios.
"Olhamos filmes em que ela fazia topless e pensamos, "Talvez" ", disse Papsidera. Não era um filme de época, portanto a autenticidade não era imprescindível. A possibilidade de um implante se tornou "um ponto de referência", afirmou. "A pergunta era: "Quem é esta pessoa que quer ser atriz?" Ela, enfim, não conseguiu o papel.
A perfeição da juventude é valorizada em Hollywood, apesar da aparente "canonização" das atrizes mais velhas como Meryl Streep, Helen Mirren e Betty White. Mas uma atriz talentosa com mais de 35 anos que fez uma cirurgia particularmente bem sucedida ainda pode encontrar trabalho. Nesta idade, o que se critica não é a cirurgia plástica ou o botox - todos fazem, não é? - mas uma plástica mal executada. "Nos bastidores, a gente fala muito", disse Levy, o diretor: "Por que ela fez isso consigo mesma? Ela era linda, fabulosa. Agora não vamos chamá-la."
Julgamentos. Executivos e produtores que criticam os outros por abusarem das plásticas muitas vezes também sentem a mesma pressão para parecerem jovens e atraentes. Portanto, o julgamento que fazem a respeito dos outros não só é subjetivo, como profundamente pessoal. (Vários executivos dos estúdios não responderam aos nossos telefonemas ou não quiseram manifestar sua opinião sobre procedimentos cosméticos.) Carrie Audino, uma diretora de casting de Mad Men, disse: "Há ocasiões em que a gente está numa reunião para escolher um elenco e ouve comentários em que é possível perceber uma postura tendenciosa provocada por certa insegurança pessoal. Como essas pessoas têm problemas consigo mesmas, também têm problemas com os outros".
No entanto, algo sugere que a nova atitude está começando a pegar. Sharon Osbourne, disse em talk show da TV americana que pretendia retirar os implantes de silicone nos seios para dá-los ao marido como pesos de papel. Lisa Kudrow, numa recente entrevista à revista New York, parecia feliz de confessar que o rosto que os espectadores viram num episódio de Cougar Town era o dela, com todas as rugas da idade. "Veja, o tempo corre", ela disse. "Você quer ter uma aparência ótima, mas há uma distinção entre você se parecer com você mesma e parecer um personagem de um filme de Batman". 
/ TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA  
fonte: The New York Times - O Estado de S.Paulo

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Coppola: "É difícil eu ver um filme comercial sem a sensação de ter visto aquilo antes"


Em visita ao Brasil, o diretor Francis Ford Coppola fala sobre seu novo filme "Tetro" e critica a indústria cinematográfica, que não abre mais espaço para a experimentação


Maurício de Sousa é eleito para a Academia Paulista de Letras

Renato Luiz Ferreira/AE - Arquvo
Renato Luiz Ferreira/AE
Cartunista Maurício de Sousa ocupará a cadeira 24 da APL


Mauricio de Sousa, o criador da Turma da Mônica, foi eleito nesta quinta (2) imortal pela Academia Paulista de Letras (APL). Ele derrotou o advogado Joaquim Cavalcanti de Oliveira Lima Neto e ocupará a cadeira 24, deixada pelo poeta e jurista Geraldo de Camargo Vidigal, que morreu em agosto.



Sousa é o primeiro quadrinista a conquistar a honraria. “Gostaria de atrair crianças e jovens para conhecerem a Academia e seus representantes”, disse o artista.
A APL é formada por 40 membros. Em sua composição atual, estão nomes como Walcyr Carrasco, Ignácio de Loyola Brandão, Ruth Rocha, Lygia Fagundes Telles, Antonio Ermírio de Moraes, Antonio Penteado Mendonça, Ives Gandra Martins, Raul Cutait, Miguel Reale Jr., Gabriel Chalita, Bolívar Lamounier e Jorge Caldeira, entre outros. A instituição foi fundada em 1909 e hoje é presidida por José Renato Nalini. Sua sede está localizada no Largo do Arouche, Centro e São Paulo.
fonte: Estadão

Trem sujo da Leopoldina


Raquel Trindade, folclorista, declama o poema "Trem sujo da Leopoldina", de autoria de seu pai, Solano Trindade - um dos grandes poetas brasileiros, e o primeiro a escrever especificamente para o público negro do Brasil. Extraído do documentário "Geraldo Filme"





Dica da Lara Sfair

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

"Uma Pedra no Meio do Caminho"


Em vídeo produzido pelo Instituto Moreira Salles, o famoso poema de Drummond "Uma Pedra no Meio do Caminho" é declamado em diversas línguas

Moments



Da prancheta para os cartões-postais



No dia 15, Niemeyer completa 103 anos. E diz não à aposentadoria: continua a desenhar suas curvas, criando outros pontos turísticos no Brasil e no mundo


Clique na imagem para ver a matéria 


O canto da cidade de Jaime Lerner


Esta palestra de Jaime Lerner circula no mundo pela internet. Resume de forma precisa e bem-humorada os conceitos fundamentais de Lerner sobre a vida urbana.


CLIQUE NA FOTO PARA VER O VIDEO



fonte : Blog do Fábio Campana

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Antonio Dias



Antonio Dias, um dos mais consagrados nomes da arte contemporânea brasileira, nos últimos meses tem estado com freqüência na capital paulista, para cumprir intensa agenda de compromissos. O artista paraibano, que vive entre o Rio de Janeiro e Milão, além de participar da 29ª Bienal de São Paulo, realizou este ano uma grande individual na Pinacoteca do Estado (11 de setembro a 07 de novembro). Agora, apresenta seus novos trabalhos nesta exposição que anuncia a sua entrada no elenco da Galeria Nara Roesler. A mostra reúne seis pinturas inéditas, em grandes formatos, concebidas em 2009/2010.

Segundo Sonia Salzstein o conjunto de pinturas recentes de Antonio Dias, aparentemente, mantém-se no rumo tomado pelo artista desde meados da década de 1980. “São trabalhos que confirmam procedimentos característicos do que ele iniciava naquele momento: a justaposição de telas de diferentes dimensões, de modo que da articulação de dois ou mais módulos resultam vãos, “vazios”, estes, por sua vez, imantados pela estrutura em grelha da obra (o que sugeria seu prolongamento virtual por todo o espaço); a lida com uma pintura, por assim dizer, ready-made, que prescinde de pincéis e declara ostensivamente seu deslocamento do ambiente do ateliê; uma efervescência de técnicas (ou anti-técnicas) de pintura que não se assenta na maior ou menor plasticidade dos materiais, mas em processos físico-químicos, na evidência objetiva das reações entre elementos minerais, pigmentos e aglutinantes”, escreve a crítica. 

Antonio Dias (1944, Campina Grande, Paraíba), ex-aluno de Goeldi, em 1965 participa da emblemática mostra Opinião 65, no MAM, Rio de Janeiro, quando também realiza a sua primeira exposição individual na Europa, em Paris, onde ganha o prêmio de pintura na IV Bienal, e ainda, no mesmo ano, o Prêmio Jovem Desenho Brasileiro do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo.

Com estes destaques conquistados já no princípio de sua carreira e ao mudar-se em 1968 para Milão e posteriormente ter residência oficial em Colônia, na Alemanha – sem, contudo, abandonar seu ateliê na cidade italiana e sua ligação com o Rio de Janeiro –, o artista alcançou rapidamente relevante projeção internacional. Ao longo de 40 anos, Antonio Dias realizou numerosas exposições individuais e participou de muitas coletivas no Brasil e no exterior. Em sua poética, política, sexualidade, morte, reflexões sobre a natureza da arte são algumas das questões que tecem uma produção singular no cenário contemporâneo internacional.

Baixe o pdf do folder da exposição

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Odisséia - versão em vídeo




Versão em vídeo da exposição fotográfica Odisséia, que participou da 5ª Mostra Recife de Fotografia.

domingo, 21 de novembro de 2010

Quem são os ianomâmis?


Visitantes de outras aldeias se preparam para a entrada na maloca onde se realizou a Quarta Assembleia da Hutukara Associação Yanomami, em Toototobi (AM)
Visitantes de outras aldeias se preparam para a entrada na maloca onde se realizou a Quarta Assembleia da Hutukara Associação Yanomami, em Toototobi (AM)


Os primeiros contatos sistemáticos de brancos com ianomâmis, em território brasileiro, aconteceram nos anos 1940. Antes disso, só se conheciam as informações coletadas por viajantes como o etnógrafo alemão Theodor Koch-Grünberg, que travou contato com os ianomâmis em 1911-1913 e escreveu sobre suas guerras com a etnia dos iecuanas, e os relatos esporádicos de seringueiros, castanheiros e piaçabeiros que topavam acidentalmente com aqueles índios nômades, falantes de uma língua desconhecida e temidos por povos vizinhos como poderosos guerreiros e feiticieiros. Militares da Comissão Brasileira de Demarcação de Limites (CBDL) percorrem várias vezes as montanhas que servem como divisor de águas entre as bacias do Orenoco e do Amazonas, entre 1938 e 1945, com a missão de fixar a fronteira entre Brasil e Venezuela.
Foi o início de uma demanda irreprimível dos índios por objetos de metal, como machados e terçados. E foi também o início de uma fabulação ambígua sobre os ianomâmis, em que se misturam imagens de um povo idilicamente isolado, ainda chamado de "guaharibos", com as de grupos violentos e vingativos. Imbuído do positivismo benevolente que o futuro marechal Rondon imprimiria ao Serviço de Proteção ao Índio, Rubens Nelson Alves relata a expedição de 1942-1943 à região do rio Mucajaí como emissária do mundo civilizado, portadora de paz e amizade para "um grande império silvícola". Dois anos antes no Demini, porém, um acampamento de base da CBDL sofrera um ataque dos ianomâmis, com vários feridos.
Na década seguinte começou um fluxo mais ordenado dos "napë" (brancos) para os platôs e sopés de serras como Imeri, que abriga o pico da Neblina (2.994 m). Atraídos pela condição "intocada" dos ianomâmis, missionários católicos e protestantes passaram a instalar-se no local, acompanhados de linguistas e antropólogos para auxiliar no aprendizado das línguas locais. Atendimento de saúde, alfabetização e catequese formavam o tripé da máquina de boas intenções, que tampouco dispensava facões e espelhinhos.
Mas "napë", para ianomâmis, em geral quer dizer mesmo garimpeiros. É deles a face mais odiosa do contato com a "civilização", um tsunami de mortes por gripe, sarampo, rubéola e malária, além de massacres. Poderia ter extinguido os ianomâmis a partir da década de 1970, quando pereceram em apenas três anos 13% da população da etnia no Brasil, não fosse a capacidade de adaptação de alguns líderes, como Kopenawa e seu sogro, Lourival.
Dois livros recentes recontam essa história. "La Chute du Ciel - Paroles d'un Chaman Yanomami" (A Queda do Céu - Palavras de um Xamã Ianomâmi, editora Plon, 2010; em português, sairá pela Companhia das Letras em 2011) a apresenta do ponto de vista do xamã Davi Kopenawa, cujas palavras foram coletadas pelo antropólogo Bruce Albert ao longo de 35 anos de convívio. Menos envolvido, mas não menos simpático à causa indígena, é "Les Yanomami du Brésil - Géographie d'un Territoire Amérindien" (Os Ianomâmis do Brasil, Geografia de um Território Ameríndio, editora Belin, 2010).
Ambos formam um contraponto atual para a antiga visão que fazia dos ianomâmis um "povo feroz", dedicado a guerras, vinganças e infanticídio, que teve como principal propagador o americano Napoleon Chagnon."Yanomamö - The Fierce People", aliás, era o título da etnografia que esse controverso antropólogo publicou em 1968. Mais à frente, Chagnon foi acusado de envolver-se em pesquisas de vacinas com os índios, sem o devido consentimento.
Antes de Albert, o antropólogo de escola francesa mais próximo de ianomâmis foi Jacques Lizot, que descreveu em 1976, no livro "Le Cercle des Feux" ("O Círculo dos Fogos", editora Martins Fontes, 1988), os costumes da etnia. Mas Lizot foi depois acusado de pedofilia. Exposições mais detalhadas desse capítulo antropológico nada edificante protagonizado por Chagnon e Lizot podem ser encontradas no livro "Trevas no Eldorado", de Patrick Tierney (Ediouro, 2002) e no documentário "Secrets of the Tribe" (Segredos da Tribo), que José Padilha fez para a BBC em 2009.

MASSACRE Como missionários, antropólogos e outros "napë", os garimpeiros atraem os índios com presentes. Depois de obter acesso aos veios de interesse, como depósitos de cassiterita (minério de estanho) e ouro na região de Surucucu, o suprimento começa a minguar e pode terminar cortado.
Irados, os ianomâmis acabam por revidar o que tomam por ofensas. Deflagram uma guerra em que serão fatalmente derrotados. Isso ficou evidente com o famoso massacre de Haximu (1993), que acarretou a morte de 16 indígenas, na maioria mulheres, crianças e velhos, após o assassinato de um garimpeiro. O drama oculto do extermínio ianomâmi, que se desenrolava no recôndito da selva amazônica, ganha repercussão mundial. O relato mais detalhado dos eventos aparece em artigo de Bruce Albert publicado pelaFolha em 3 de outubro de 1993. [Leia aqui a reportagem como publicadaparte 1 e parte 2 ]
Como diria Kopenawa, não adiante brigar com "napë". Eles têm armas de fogo, tratores e o próprio fogo como aliados, na hora de derrubar a mata. Na frente de devastação, em Roraima, Amazonas e Venezuela, os brancos podem encontrar-se em minoria, mas há muito mais deles, nas grandes cidades, do que todos os 33 mil ianomâmis juntos, brasileiros e venezuelanos. Como gafanhotos, nunca faltarão garimpeiros.
Mas Haximu foi também um anticlímax para os não índios, que um ano antes do massacre tinham presenciado uma vitória importante dos ianomâmis em Brasília: a homologação dos 96.650 km2 da Terra Indígena Yanomami, assinada pelo presidente Fernando Collor pouco antes da Eco-92, no Rio. Um território maior que Portugal, de propriedade da União e reservado para usufruto exclusivo de cerca de 17 mil ianomâmis (os outros 16 mil vivem do lado venezuelano).
Era o objetivo por que lutara nos 15 anos anteriores a Comissão pela Criação do Parque Yanomami (CCPY), uma ONG fundada entre outros pela fotógrafa Claudia Andujar, que conseguiu o apoio de personalidades como o senador Severo Gomes (PMDB-SP). À sua sombra cresce também a liderança de um jovem ianomâmi, funcionário da Funai batizado e alfabetizado por missionários: David Kopenawa.

PERIMETRAL NORTE Curioso sobre os costumes do brancos, Kopenawa emprega-se como intérprete dos brancos mobilizados para construir um trecho da rodovia Perimetral Norte (BR-210), a partir de 1973, da cidade de Caracaraí até a Missão Catrimani, já em território ianomâmi, e daí até o posto da Funai Demini. Peça-chave do Plano de Integração Nacional do governo militar, a maior parte da estrada acabou abandonada e tomada pela selva. Com pouco mais de 20 anos, o jovem se torna depois chefe do posto Demini, no km 211 da Perimetral.
Bruce Albert conta em seu livro que Lourival, líder de uma comunidade ianomâmi com história problemática de migrações e conflitos com brancos, vê aí a oportunidade de ganhar acesso descomplicado às mercadorias úteis dos "napë", sobretudo utensílios de metal como machados e facões Aproxima seu povo do posto e acaba por fixá-lo na aldeia Watoriki, em 1993. No processo, casa uma filha com Kopenawa e o inicia nas artes do xamanismo. Consegue, com isso, obter o que lhe interessa dos brancos, por um intermediário alfabetizado e versado nos costumes dos brancos, sem ter de brigar com eles. Depois de Kopenawa, a nova geração ianomâmi amplifica o uso da escolarização como meio de fazer a etnologia dos "napë", assimilando seus códigos para defender os próprios interesses de modo mais eficaz.

fonte: Marcelo Leite - Folha.com

O testamento de Wilson Bueno





Novo número da revista Coyote traz inéditos do autor assassinado em maio, recuperados por seu primo


Elegante e ético, o escritor Wilson Bueno (1949-2010) manteve-se a vida inteira sempre muito atento à produção literária dos outros poetas e escritores. E costumava ser generoso na acolhida do trabalho alheio. "A cada novo número da revista Coyote ele sempre nos mandava um e-mail com comentários sobre a edição, sempre incentivando a continuidade da revista", conta o poeta Ademir Assunção, falando sobre o colega, assassinado em sua casa em 31 de maio deste ano.
É justamente a revista Coyote que traz, na próxima semana, os últimos poemas e contos inéditos do escritor curitibano, organizados pelo primo do autor, Luiz Carlos Pinto Bueno. Foi Luiz quem encontrou o corpo do poeta 24 horas após o crime. Fora assassinado aos 61 anos, a facadas, na cadeira de trabalho. O choque da descoberta está registrado também em um texto curto. "O grande inventor de línguas e estórias, com a garganta aberta dos dois lados, é o centro da cena do crime de latrocínio de que foi vítima", escreveu Luiz Carlos.
A Coyote nº 21 sai com esse testamento literário de Wilson Bueno - oito poemas do livro inédito 35 Poemas de Amor (leia três deles abaixo) e três textos do livro inédito Ilhas, de prosa. "Vivendo sempre, de forma muito intensa, sensível, praticava o lúdico do desejo e dava vazão à pulsão de vida. Vivia o amor em toda a sua plenitude, ignorou que, lado a lado, pulsão de vida e morte coexistem e fazem parte do jogo, roleta russa, jogos da infância que invadem a alma, travestidos, e podem nos fazer, protagonistas do desejo, caçadores de aventura num vida meio bandida, carnal, descuidada, infantil, em que as vezes traídos pela sorte quedamos feridos de morte", diz o texto do primo de Bueno.
Os poemas publicados pela Coyote mostram um autor delicado, romântico, atento à imagem, mas também às visões. "Amor, de tão cortês, é um algodoal de líquens/ E plana, suspenso, entre o sonho e o sonho". Simples, ao mesmo tempo que erudito e sofisticado: "Sombras atrás das quais me escondo pasmo/ Mortal, na noite, Amor, o som da geladeira".
Lugares remotos. Já no livro também inédito As Ilhas, Bueno se projeta a lugares remotos para trabalhar uma prosa elegante, tratando de ética e limites num universo insular: a revista publica os textos sobre as ilhas de Larsen (Alasca), Eólia (Grécia) e Sagres (Portugal).
Nascido em Jaguapitã, interior do Paraná (400 km de Curitiba), Wilson Bueno foi poeta, jornalista, escritor e editou o jornal Nicolau, importante na divulgação de autores do País todo nos anos 1980. Foi colaborador de O Estado de S. Paulo e de O Estado do Paraná, entre outras publicações. Como escritor, integrou uma geração notável, que teve ainda Cristóvão Tezza, Jamil Snege e (mais velho que estes) Valêncio Xavier. Foi autor, entre outros, de Bolero"s Bar (1986), Mar Paraguayo (1992), Cristal (1995), Pequeno Tratado de Brinquedos (2003), Cavalo (2000) e Amar a Ti Nem sei se Com Carícias (2004).
Em junho, o caderno Sabático já antecipara trecho do último romance de Bueno, Mano, a Noite está Velha, previsto para ser lançado em 2011 pela editora Planeta. Ao todo, terá deixado 14 livros. Entre outras distinções, foi finalista em 2008 do Prêmio São Paulo de Literatura.
O assassino confessor de Wilson Bueno foi o garoto de programa Cleverson Petreceli Schimitt, de 19 anos, após desentendimento por uma dívida de R$ 130. Depois do crime, Schmitt ainda teria roubado celulares e máquina fotográfica. O assassino deve ir a júri popular nos próximos dias.
Além dos inéditos de Wilson Bueno, a Coyote trará poemas do espanhol Leopoldo María Panero, um conto inédito de João Gilberto Noll, uma entrevista com a crítica norte-americana Marjorie Perloff, aforismas de Franz Kafka e um ensaio de Jair Ferreira dos Santos, O Pavão é uma Galinha em Flor. "A poesia contorna a economia. É criação improdutiva como a Festa, o Amor. Não é mercadoria, ignora o interesse, está à margem do cálculo", escreve Santos.
Já os aforismas de Franz Kafka, em tradução de Silveira de Souza, são uma seleção aleatória de um conjunto. O material seria, segundo o tradutor, oriundo do caderno manuscrito no qual Kafka deixou 109 "aphorismen", relativos a um período compreendido entre 1916 e 1918. "Foi dada a eles a escolha de se tornarem reis ou mensageiros de reis. Com a ingenuidade das crianças, todos escolheram ser mensageiros. Eis porque só existem mensageiros, que correm pelo mundo e, como não há mais reis, gritam uns para os outros mensagens que não têm mais sentido".
A revista Coyote tem 52 páginas e custa R$ 10. É uma publicação da Kan Editora, com distribuição nacional pela Iluminuras. É vendida em livrarias ou direto com a Editora Iluminuras (tel. 3031-6161 ou pela internet: www.iluminuras.com.br)
TRÊS POEMAS

Tão grande o Amor que nos abraça
O tempo, a infância, prados e pinheiros
Agora em que sei que estás morrendo
E morrem contigo as gastas ilusões,
O irmão já morto, vosso útero.
E de mim os sonhos loucos.
Tudo é a antevisão do silêncio longo
Que há, meu Deus!, de separar-nos.
Dissolução da ausência, do corpo, da casa
Morrem bromélias, alamandas e os cactos
De vosso jardim, amor, Mãe, tão casto,
Aqui onde cato de mim caco a caco.
Cai-me ao colo Amor de súbito
Um susto, um esgar, um bramido.
Estertor de tudo - desamor Amor ao avesso?
Quero-vos lúmpen, maltrapilha, campesina
Quero-vos riacho e manso açude.
Amor, entanto, vocifera pontiagudo
Mural de rochas e lascas e espelhos e cardumes
A fingir do Amor - casta figura? -
O Desamor em pêlo, às turras,
Aos vozeios, facas, murros, unhas
A alvoroçar o silêncio de agulhas.
E veio a chuva, Amor,
Molhar nossas feridas,
De sermos mais do que sozinhos
Dois entes da cicatriz reféns e prisioneiros
Nos edredons de nossa cama
Travesseiros, lençóis, miasmas
As tuas saudades minhas
O moreno olor de teu cabelo,
Sombras atrás das quais me escondo pasmo.
Mortal, na noite, Amor, o som da geladeira.
Do livro inédito "35. Poemas de Amor" 

fonte: Jotabê Medeiros - O Estado de S.Paulo