Então

segunda-feira, 29 de março de 2010

Armando Nogueira

Morre Armando Nogueira um dos mais importantes jornalistas do Brasil




A Bola texto Armando Nogueira narração Paulo José

sábado, 20 de março de 2010

ANTONIO CICERO - A antifilosofia

No livro do filósofo Boris Groys se encontra a busca da originalidade a qualquer preço

O ROMANCISTA espanhol Javier Cercas, comentando que o pior vício que um filósofo pode ter é se esforçar para ser interessante, observava que "dizer que os homens buscam a felicidade é enfadonho e pouco original, porque os filósofos o dizem pelo menos desde Aristóteles, mas tem a vantagem de ser certo; reivindicar a infelicidade, a doença e a velhice, como faz agora o filósofo alemão Boris Groys, tencionando discordar do discurso dominante da apoteose juvenil, é sem dúvida original, mas tem a desvantagem de ser uma bobagem".
Lembrei-me disso ao ler um livro de Groys recentemente publicado na Alemanha, cujo título em português seria "Introdução à antifilosofia". A observação de Cercas se refere a outra obra desse autor, mas a busca da originalidade a qualquer preço também se encontra no livro mais recente.
Groys fala das "verdades" como produtos oferecidos no mercado. Na Grécia antiga, segundo afirma, os sofistas produziam verdades para o mercado. Ao contrário deles, Sócrates se definia como filósofo, isto é, como aquele que ama a verdade, mas não a possui ou produz, ou como aquele que está disposto a adquirir verdades, desde que se convença de que o que lhe oferecem como verdade é o produto autêntico, e não uma falsificação. Assim, a diferença entre o sofista e o filósofo é que este é o consumidor crítico, enquanto aquele é o produtor de verdades.
Contudo, para Groys, o simples fato de descobrir que uma verdade funciona como mercadoria -a descoberta dos interesses econômicos por trás da formulação e da divulgação de uma doutrina- já bastava para que Sócrates a recusasse. "De Sócrates, através de Marx, até a teoria crítica frankfurtiana", afirma Groys, "pensa-se que a verdade, quando se dá como mercadoria, não é verdade". Isso significa, segundo ele, que não há verdade, pois na economia mercantil nenhuma verdade escapa à condição de mercadoria. A própria filosofia, inclusive a de Sócrates, justamente na medida em que é consumidora crítica de verdades, também faz das verdades mercadorias.
Groys pensa que é a partir da compreensão desse fato que surge a antifilosofia. Esta não funciona através da crítica, mas da ordem. Ordena-se, por exemplo, a transformar o mundo, em vez de explicá-lo (Marx); ou a proibir todas as questões filosóficas e calar sobre o que não pode ser dito (Wittgenstein); ou a transformar o próprio corpo num corpo sem órgãos e pensar de modo rizomático, e não lógico (Deleuze); etc. A verdade -não mais mercantil- somente se revela quando a ordem é obedecida. Primeiro vem o salto à fé; depois se manifesta a verdade da religião. Quem se recusa a obedecer permanece para sempre no escuro e não pode sequer criticar a ordem, pois não a compreende propriamente. A decisão primeira é vital, não filosófica. Reconhece-se esse tipo de irracionalismo decisionista em antifilósofos contemporâneos como Alain Badiou e Slavoj Zizek, que sincretizam Paulo de Tarso e Lenin, Robespierre e Mao Tse-tung.
A mesma recusa do pensamento crítico opera hoje, segundo Groys, não somente nas religiões e ideologias políticas, mas em livros que receitam pensamentos positivos, estratégias de mercado, indicações sobre o combate contra o império americano com a ajuda das "multidões" (Hardt e Negri), comportamentos adequados para os ativistas da esquerda ou da direita etc. No fundo, tudo se reduz a conselhos de autoajuda.
Se a antifilosofia é como Groys a descreve, então devemos dizer que ela se baseia numa falácia (coisa que pouco lhe importa, já que ela despreza a crítica, a razão e a lógica). É que, assim como o fato de que todo pato seja animal não significa que todo animal seja pato, o fato de que toda avaliação de mercadorias seja uma espécie de pensamento crítico não significa que todo pensamento crítico seja uma espécie de avaliação de mercadorias; e o fato de que as mercadorias possam ser objetos da crítica não significa que todos os objetos da crítica sejam mercadorias.
Ao escrever o livro em questão, Groys não se pretendeu antifilósofo, mas fenomenólogo. Talvez a forma mais generosa de entender suas teses seja tomá-las como, na prática, irônicas em relação à antifilosofia. Afinal, os antifilósofos teriam rejeitado a filosofia porque pensavam ter descoberto seu caráter de mercadoria. Mas quem ignora que, entre os livros vendáveis -logo, que se realizam como mercadorias-, os de autoajuda superam, de longe, os de filosofia?

fonte: Folha de São Paulo

sexta-feira, 19 de março de 2010

NO 2010FINEART a obra do ROGÉRIO DIAS estará lá



Tela selecionada para fazer parte da coleção



ROGÉRIO DIAS



O 2010FINEART é evento oficial da FIFA para a Copa do Mundo de 2010.

5 artistas de cada um dos 32 países que vão a copa foram selecionados e convidados a criar uma obra para o evento.

De cada obra será feita uma tiragem de 210 cópias em tela (Giclê).

Estas cópias participarão de exposições simultâneas nos 32 países que irão a copa e no finaql os originais serão leiloados.

Devido ao limitado numero de cópias, o site oficial 2010fineart já está fazendo pré reservas das obras, uma vez que elas sómente estarão a venda dias antes da copa.

http://www.2010fineart.com/index.php

2010 FINEART é uma celebração visual ao mais assistido evento esportivo do mundo e é inspirada no retorno do mundo para a África. Pela primeira vez nos 80 anos de história da Copa do Mundo FIFA ™ que a arte é reconhecida nesta escala como Produtos Oficialmente Licenciados pela FIFA.


O 2010 FIFA World Cup ™ é uma das plataformas mais significativa para a promoção da África e da cultura Africana. É uma oportunidade ímpar para mostrar o melhor das artes visuais Africanas, bem como obras de todo o mundo inspirado na primeira Copa do Mundo FIFA ™ em solo Africano.


Reunindo os principais artistas contemporâneos de todo o mundo e de toda a África, o projeto 2010 Fine Art é uma das maiores e mais ambiciosas colaborações internacionais de arte na história.


As duas coleções - 2010 International Fine Art e 2010 African Art- oferta a colecionadores, fãs de futebol, e todos os amantes de grande beleza, uma oportunidade única de adquirir para si um pedaço da emoção e paixão da 2010 FIFA World Cup ™ África do Sul - capturadas por alguns dos maiores talentos do mundo artístico.


Nós convidamos você a explorar a excitação das Coleções 2010 FINEART, para partilhar a nossa paixão por 'The Game Beautiful', e se juntar a nós na celebração do espírito da África e da energia da 2010 FIFA World Cup ™.



http://www.2010fineart.com/

Quer mais de Rogério Dias aqui & aqui

quinta-feira, 18 de março de 2010

CONTARDO CALLIGARIS - custo de nossa fé na redenção


Se não fosse tão difícil internarmos indivíduos perigosos, Glauco e Raoni estariam conosco

GLAUCO MAL me conhecia, mas eu o conhecia bem: ele era presença familiar no meu café da manhã, a cada dia, há muitos anos. Dos personagens que ele inventou, em suas tiras na Folha, quais são meus preferidos? Gosto muito do silencioso Nojinsk, de Zé do Apocalipse e do Casal Neuras, mas Geraldão e Geraldinho são os que mais me tocam, talvez por serem retratos milagrosamente exatos da voracidade que é, hoje, um traço dominante, em todos nós, adultos e crianças. Por sorte, vou poder matar a saudade, pois os dois personagens ganharam coletâneas em livros (LPM e Companhia das Letras, respectivamente).
O assassino confesso de Glauco e de seu filho Raoni é um jovem de 24 anos, que frequentava a Céu de Maria, igreja do Santo Daime fundada pelo próprio Glauco. O jovem é ou era dependente químico e sofre ou sofria de transtornos mentais graves; pelo que entendi, havia a esperança de que ele encontrasse, no ritual do daime, uma saída -da droga e da desordem de seus afetos e pensamentos. Isso não impediu que, na noite do assassinato, ele se confundisse com um profeta ou com o próprio Jesus Cristo.
Às vezes, o convívio social proporcionado por uma igreja ajuda um drogado a abandonar sua dependência ou um louco a conter-se e a reencontrar algum equilíbrio mental. Essas "recuperações" são, de fato, precárias e incertas.
Cuidado, não estou minimizando apenas o poder terapêutico do convívio religioso. Critico o otimismo que nos leva a acreditar na possibilidade de transformações definitivas -pelo encontro com um deus, pela prática de uma religião, pelo uso de psicofármacos ou pela psicoterapia.
Esse otimismo é, provavelmente, um efeito da ideia cristã de que não existe um pecado que não possa ser esquecido e perdoado se o penitente for sincero. Na lista dos santos, muitos foram grandes pecadores, transfigurados irreversivelmente por uma iluminação ou pelo arrependimento. E o exemplo dos santos serve para afirmar que somos todos livres: suscetíveis de transformações radicais. A fé na possibilidade de cada um se regenerar é um traço central de nossa cultura porque parece ser uma condição da liberdade: nada do que somos hoje é definitivo, podemos mudar.
Agora, se a redenção é sempre possível, a decisão de excluir e prender se torna, para nós, envergonhada e culpada. É quase inadmissível internar um indivíduo perigoso na intenção de proteger a sociedade dos atos que ele poderia cometer, pois, internando, negaríamos o mantra segundo o qual a conversão e a redenção do indivíduo são sempre possíveis ou, por que não, prováveis. Em outras palavras, é impossível sancionar a periculosidade de um indivíduo, pois precisamos acreditar que ele possa mudar (para melhor, é claro).
Logo antes do Natal de 2009, em São Paulo, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, Henrique de Carvalho Pereira, 21, foi golpeado brutalmente com um taco de beisebol por alguém que desconhecia. Seu agressor, em abril de 2009, tinha quebrado uma vitrina da mesma livraria, também a tacadas. Confuso, delirante e ameaçador, tinha sido preso e logo liberado, como se diz, após a assinatura de termo circunstanciado. Ninguém soube, pôde ou quis transformar aquela prisão em internação. Reconhecer que o homem era obviamente perigoso seria privá-lo da liberdade de mudar, não é? Pois é, se alguém tivesse reconhecido, sem culpa e sem vergonha, que é preciso internar um delirante de taco na mão, Henrique de Carvalho Pereira, em vez de permanecer em coma, ainda estaria circulando entre as estantes da Livraria Cultura.
Da mesma forma, o assassino de Glauco e Raoni deve ter dado mil sinais ameaçadores, que foram ouvidos por próximos, parentes, colegas e amigos. Segundo a polícia, há testemunhos que permitem afirmar que o assassinato foi premeditado, o que significa que, para alguém, a loucura do assassino não foi uma surpresa. Então, por que ninguém levou as ameaças a sério? Por que ninguém parou o assassino antes que matasse?
Pois é, se alguém tivesse dito ou até gritado que aquele jovem confuso era perigoso, dificilmente ele teria sido escutado. Ao contrário, os alertas seriam malvistos: você está querendo o quê? Prender o cara só porque está estranho, sem lhe dar uma chance de ficar melhor? Por esse caminho, continuaremos contando e chorando as vítimas.

Contardo Calligaris :(Milão, 1948) é um psicanalista italiano radicado no Brasil. É colunista da Folha de S. Paulo.
Doutor em Psicologia Clínica pela Universida da Provença (França), onde defendeu a tese "A Paixão de Ser Instrumento", estudo sobre a personalidade burocrática. Professor de Antropologia na Universidade da Califórnia em Berkeley (Estados Unidos), e de Estudos culturais na New School of New York.
Colunista do jornal Folha de S. Paulo desde 1999, Calligaris é autor de diversos livros.

terça-feira, 16 de março de 2010

Obra que retrata religiosos empilhados é criticada na Espanha

Obra foi considerada preconceituosa por israelenses (Foto: ARCO, Galeria ADN, Eugenio Merino)

19 de fevereiro, 2010 na BBC BRASIL

Uma escultura que traz elementos religiosos católicos, judeus e muçulmanos foi vendida em três minutos na feira de arte contemporânea de Madri, Arco 2010, e se tornou a obra de arte mais polêmica do evento.

Chamada Stairway to Heaven (Escadaria para o Paraíso), a obra do artista espanhol Eugenio Merino retrata três homens rezando, um em cima do outro: um muçulmano, sobre ele um sacerdote católico e acima dos dois um rabino judeu, todos eles segurando livros sagrados das religiões dos demais – o Alcorão, a Bíblia e a Torá.

A obra foi vendida por 45 mil euros (R$ 112 mil) a um colecionador belga cuja identidade não foi divulgada. A escultura provocou a ira dos fiéis na Espanha e recebeu queixas oficiais.

Ao lado dela, aparece outra escultura que une uma metralhadora Uzi com uma menorá (candelabro ritual judaico).

A primeira reclamação saiu da embaixada de Israel em Madri. Em uma nota à direção da feira, o governo do Estado judaico diz que as peças “contêm elementos ofensivos para judeus, israelitas e certamente para outros.”

A embaixada classificou as esculturas como “uma mensagem cheia de preconceitos, estereótipos, provocações gratuitas e que fere a sensibilidade por muito que pretenda ser uma obra artística”.

A Conferência Episcopal da Espanha também reclamou. Através de comunicado à Arco os representantes do alto clero descreveram a peça com os religiosos como “provocação blasfema absolutamente desnecessária”.

'Mentes fechadas'


Mas apesar das reclamações feitas logo no primeiro dia do evento, a galeria espanhola ADN, que representa o autor, não tem medo de represálias e afirma não entender a polêmica levantada pela escultura.

O proprietário da galeria, Miguel Ángel Sanchez, disse à BBC Brasil que a peça “deveria ser vista pelo lado positivo de um encontro religioso porque não há nada de ofensivo ali”.

Já o autor da escultura acha que o problema “não é a obra dele”, mas as interpretações que possam ser feitas “por mentes fechadas”.

“Cada um é livre para pensar o que quiser. Fiz uma peça que fala da unidade de religiões. Uma torre com as três grandes religiões que se juntam para chegar ao mesmo fim, que é Deus”, disse Merino à BBC Brasil.

“Mas se as mentes fechadas querem ver outra coisa, aceito a crítica. Só que eles também têm que aceitar meu trabalho”, afirmou o artista.

Merino admite, no entanto, que a segunda escultura, que mistura a arma com o candelabro, possa afetar a sensibilidade de alguns fiéis.

“É verdade que a metralhadora é uma Uzi, uma arma de Israel famosa nos conflitos com os palestinos. Mas a intenção foi reciclar os elementos para transformar em uma coisa que não mata. No fundo a peça trata da paz”, disse ele à BBC Brasil.

A feira de arte contemporânea de Madri, Arco, é uma das duas maiores do mundo e já está na 29ª edição. Neste ano, o evento termina no próximo dia 21, embora para o público fique aberta até o dia 19.




segunda-feira, 15 de março de 2010

LUIZ FELIPE PONDÉ - Finesse

Finesse


Algumas questões são tratadas de forma grosseira porque temos pressa em resolvê-las


O FILÓSOFO francês Blaise Pascal (século 17) dividia a inteligência em dois tipos de "espíritos". "Espírito", aqui, significa "atividade intelectual" e não alma penada ou um princípio pessoal e imaterial como no kardecismo. Os dois tipos são: o espírito geométrico e o espírito de "finesse".
O primeiro teria como vocação lidar com um grande número de questões ao mesmo tempo, arranjando-as de modo linear e encadeado, a fim de gerar deduções lógicas generalistas e de grande alcance. O segundo teria uma vocação para o detalhe e a sutileza, lidando melhor com um pequeno número de variáveis a cada vez, e fugindo das generalidades apressadas.
O geométrico ama a pressa e os resultados eficazes, o de "finesse" cultua a paciência e o cuidado, mas pode ser de eficácia duvidosa.
Normalmente eu tendo para o espírito de "finesse". O problema é que numa sociedade gigantesca como a nossa, com problemas de dimensões estatísticas, o espírito geométrico tende a devorar a alma. E, por definição, a alma vive mal na geometria. Seu habitat natural é a "finesse" porque a geometria tende ao grosseiro quando envolve seres humanos.
Em nossa complexa sociedade, algumas questões são tratadas de forma grosseira porque nós temos pressa em resolvê-las ou porque queremos fazer mentiras passarem por verdades. E aí, nós caímos num frenesi geométrico.
Leitores perguntam qual é minha posição quanto ao tema das cotas nas universidades. Outros, perguntam-me: "Você é a favor ou contra os direitos gays?".
O frenesi geométrico tende a dar respostas afeitas ao gosto de políticas públicas e movimentos sociais. Respostas geométricas são assim: "sou a favor" ou "sou contra" cotas ou direitos gays. E pronto.
Confesso: tenho alergia a esse negócio de "movimentos sociais" e suspeito muito do caráter de quem vive sempre metido neles. Não existe algo chamado "multidão do bem", toda multidão é do mal.
Recentemente ouvi um comercial no rádio que falava "todos juntos com uma só vontade e um só objetivo" (algo assim). Sinto um frio na espinha quando vejo "vontades unidas", pouco importa para quê.
Perdoe-me se isso parece uma falha de caráter, ou, quem sabe, se não sofri o suficiente na vida até hoje para confiar em multidões do bem, ou se conheço muitas mulheres bonitas e que gostam de tomar vinho antes do sexo. Na vida de um homem, o que decide sua realização é sempre sucesso profissional e sucesso com as mulheres, quem disser o contrário mente. Minha suspeita básica é de que desde os irmãos Caim e Abel (Caim matou Abel por inveja do amor de Deus pelo irmão), detestamos a felicidade no outro.
Mas e as cotas e os direitos gays? Tentemos uma resposta sem pressa.
Sou contra cotas raciais. Não acredito nessa coisa de dívidas históricas. Acho que isso serve para intelectuais fazerem carreiras ideologicamente orientadas (porque as universidades vivem sob repressão ideológica) e para pessoas politicamente articuladas garantirem seu futuro burocrático.
Sim, reinos africanos participavam do mercado de escravos e praticavam escravidão entre eles. Dizer que a escravidão dos africanos no Brasil foi uma mera questão de "europeus contra negros" é mentira. E mais: essa prática de cotas raciais (racismo "do bem") é tão racista quanto qualquer outra.
Dizer que reinos africanos e africanos libertos da escravidão no Brasil participaram do comércio de escravos não é "preconceito contra negros". Aqueles que afirmam isso o fazem por má fé.
Sou a favor de cotas em universidades públicas para estudantes de escolas públicas que se destacam em sua vida estudantil porque eu acredito em recompensar o mérito.
E os direitos gays? Não acho que gays devam ter direitos especiais. Leis que criminalizam gestos e palavras "contra os gays" para mim são mero fascismo.
Cirurgia para troca de sexo pago pelo Estado é um abuso para o contribuinte. Acho uma bobagem essa coisa de "homoafetividade".
É um abuso quando professores de educação sexual dão bananas para meninos colocarem camisinha com a boca, como se ser gay fosse "normalzinho". Deve-se respeitar o mal-estar das pessoas diante disso, e querer "formar" mentes nesse nível não é função da escola.
Entretanto, sendo gays pessoas comuns, acho que, sim, eles devem ter o mesmo direito que os outros: o direito de casar, criar filhos e ser (in)feliz no amor e na vida como todo mundo.

Fonte: Folha de São Paulo

Luiz Felipe Pondé é filósofo com especialização em diversas áreas. É mestre em História da Filosofia Contemporânea, pela Universidade de São Paulo (USP), e em Filosofia Contemporânea, pela Université de Paris VIII. Possui o título de doutor em Filosofia Moderna, pela USP, e de pós-doutor, pela University Of Tel Aviv, em Israel.

É autor, entre outros livros, de Conhecimento na desgraça. Ensaio de epistemologia pascaliana (São Paulo: EDUSP, 2004) e Crítica e profecia, filosofia da religião em Dostoiévski (São Paulo: Editora 34, 2003). É professor da USP, pesquisador da Université Catholique de Louvain, na Bélgica, articulista do jornal Folha de S. Paulo, professor da PUC-SP e professor da Fundação Armando Álvares Penteado, de São Paulo.


sexta-feira, 12 de março de 2010

‘O mundo acordou mais xarope hoje’, diz Galhardo

Glauco fala sobre o início de sua carreira - 11/02/2003 10h50



"Comecei a desenhar no segundo grau. Sempre desenhei na turma do fundão, que eu fui freqüentador assíduo. Desenvolvi essa linguagem e vi que era uma ferramenta muito poderosa: o humor aliado com caricatura. Desde você fazer caricatura dos professores, de algum colega de classe...


Glauco fala sobre o personagem Netão - 11/02/2003 10h40



"O Netão surgiu com essa nova moda da Internet. A princípio eu estava resistente em criar um personagem especialmente ligado à Internet, porque é uma coisa limitada de trabalhar com o cara ali olhando para aquela tela. Mas depois surgiu a esposa dele, que tem ciúmes dele ficar na navegando na Internet e fui me animando. Depois que eu comecei a colaborar com o UOL, passei a querer aprender mais sobre a Internet, também para ter mais subsídios para trabalhar com o Netão.

O Netão tem uns 30 anos, justamente para dar uma crise no casamento dele. Ele é metropolitano, vive internado num apartamento e viaja pelo mundo afora pelo computador. Ele é uma mistura do Geraldão com o Casal Neuras. Um Geraldão Virtual."

(Entrevista concedida a Mara Gama)


Glauco fala sobre misticismo e Daime - 11/02/2003 10h47



"O Angeli sempre tirou muito sarro de mim porque eu sou muito místico. Sou pisciano. Sempre gostei da linha espiritual, de estudar. Depois que eu comecei a freqüentar o Santo Daime -que é uma bebida que vem lá da Amazônia, que os índios consagram-, eles (Angeli e Laerte) tiraram muito sarro dessa minha nova jornada. Chegaram a fazer história sobre o Glauquito, que montou uma religião, encontrou suas raízes, montou uma seita e fez um chá com as suas raízes.

O Rhalah Rikota eu não tinha antenado que o Angeli tinha feito especialmente para tirar um sarro mas, com essa confissão dele eu me sinto muito honrado.

Eu sou daimista. Criamos um grupo de estudo e passamos a receber o Daime lá da floresta. É um centro de pesquisa espiritual. O Daime tem um potencial de cura muito grande.

Eu coordeno o ritual, que é bastante musical. São vários hinos, recebidos pelos caboclos lá da mata, que a gente executa depois de ter ingerido o Daime. A gente faz um trabalho musical e dentro desse trabalho musical as pessoas vão estudando, dentro da força do Daime, porque ele é um expansor de consciência.

O Daime me trouxe muita disciplina, principalmente com meu trabalho de cartunista, do traço. Também relacionado à saúde, porque eu era muito exagerado, boêmio, e isso atrapalhava o meu dia a dia. O traço é uma coisa que você precisa estar harmonizado com você mesmo. Nesse sentido, senti uma evolução muito grande, no meu trabalho e em todos os aspectos da minha vida."

(Entrevista concedida Mara Gama)

Glauco fala sobre suas tiras - 11/02/2003 10h44



"Eu desenho a nanquim com papel, depois eu escaneio e quando é para aplicar cor eu uso o computador. Tentei usar o computador para desenhar, mas meu desenho sai como se fosse uma criança. Não tenho o domínio ainda. Mesmo aquela canetinha que tem uma tela. Para meu tipo de traço, estou acostumado com a pena, que dá um traço todo peculiar."

(Entrevista concedida a Mara Gama)

O cartunista Glauco Villas Boas, 53, que morreu nesta madrugada após uma tentativa de assalto em sua casa, em Osasco, começou a publicar suas tirinhas no começo dos anos 70


Visite o site oficial de Glauco.


quinta-feira, 4 de março de 2010

Johnny Alf

Eu e a Brisa



O músico Johnny Alf, um dos precursores da bossa nova, morreu nesta quinta-feira aos 80 anos em Santo André (SP) em decorrência de um câncer de próstata avançado.

De acordo com seu empresário, Nelson Valencia, a saúde do músico piorou há seis meses, quando foi iniciado o tratamento de quimioterapia.

"Ele era muito espiritualizado, estava bastante sereno, era muito calmo", disse Valencia à Reuters.

Mesmo doente, o músico continuou a realizar pequenas apresentações, disse Valencia. A última delas foi em agosto.

Alf estava internado desde segunda-feira no Hospital Mário Covas. Segundo a instituição, a morte foi "falência de múltiplos órgãos decorrente de neoplasia de próstata".

Alfredo José da Silva nasceu em 19 de maio de 1929 no Rio de Janeiro e começou a aprender piano clássico aos nove anos. Na adolescência, interessou-se por jazz e pelas músicas do cinema norte-americano.

Adotou o nome de Johnny Alf por sugestão de uma amiga norte-americana ao realizar apresentações de jazz.

A música "Rapaz de bem", composta por Alf em 1953, é considerada precursora da bossa nova e revolucionária por seus termos melódicos e harmônicos.

Entre outros sucessos do cantor estão "Eu e a brisa", um dos maiores sucessos e sua carreira, e "Decisão" e "Garota da minha cidade", que representam o estilo mais desinibido de sua obra.

Fonte: Reuters

Os clássicos: Francesco Petrarca, "Cancioneiro", poema 7


Petrarca, o famoso modelo dos inesquecíveis sonetos de Camões

Érico Nogueira
De Roma

Já não era sem tempo: também eu estava com saudades desta coluna. Mas os encargos da mudança de país, da procura de novo apartamento, da burocracia italiana, em suma, que certamente supera a brasileira, me afastaram de vocês por mais de dois meses. O que passou, porém, passou; e agora, já estabelecido e podendo me dedicar a assuntos mais relevantes que vôos, vistos e anúncios imobiliários, a seção Os clássicos começa 2010 com força total. É ninguém menos que Francesco Petrarca, meus caros, que lhes dá as boas-vindas. Benvenuti!

Todo o mundo já ouviu falar de Petrarca, o famoso modelo dos inesquecíveis sonetos de Camões. Nascido em 1304, o poeta viveu os seus longos 70 anos se dedicando à filologia, à retórica, à religião - e, claro, à poesia que o imortalizou. Além de haver descoberto inéditos de Cícero e composto muita coisa em latim, Petrarca ficaria mundialmente famoso, porém, por causa do Cancioneiro, uma coletânea de poemas em 'vulgar' (no caso, em italiano) dedicados à hoje mítica figura de Laura, a amada ideal por antonomásia.

Pela linguagem rica e polida que é também o ápice da algo mais rude poesia amorosa que a precedeu, incluindo a provençal; pela tensão entre o amor dos clássicos latinos - e, pois, do sensível - e as demandas ascéticas do inteligível cristão; pela criação do que ainda é a 'dor e a delícia' (afoxé pai Caê) da lírica moderna, qual seja, a não-correspondência entre linguagem e mundo, poesia e vida - Petrarca ficará para sempre marcado na história da poesia ocidental como um dos seus mais geniais re-inventores. O leitor pode ter certeza de que eu não exagero. Tanto que o 'petrarquismo' - ou seja, a imitação ou emulação de Petrarca - foi uma coqueluche entre os poetas europeus pelo menos do séc. XIV ao XVII, e mesmo hoje, segundo penso, não está completamente erradicado. Leiamos, a titulo de exemplo, o poema 7 do Cancioneiro:

A gula, o sono e os ócios indevidos

varreram as virtudes deste mundo:

fizeram que engolisse o Orco fundo

o que era lume em nós, há tempos idos;

estão opacos olhos já luzidos,

iluminados do que foi profundo;

é exceção, notai se me confundo,

ter hoje versos bons, não versos 'lindos'.

Pra que poetas neste nosso tempo?

Sob esta treva em que já tarda o dia,

o máximo é de vinho se molhar.

Comigo poucos vejo em outra via:

por isso sopra mui de leve o vento

que leva as naves para o largo mar.

Eis aí uma clara (e temerária) tentativa minha de traduzir Petrarca à moda de Hoelderlin. Não obstante o duvidoso resultado propriamente poético da empresa, ela me parece justificada ao menos do ponto de vista semântico, haja vista que o famoso "Pra que poetas neste nosso tempo?", do poeta alemão, não está muito distante do não menos famoso "Qual vaghezza di lauro, qual di mirto?" que se propõe a traduzir.

Diferentemente do seu patrício Torquato Tasso, Petrarca chegou vivo ao dia da sua 'coroação': e aos 8 de abril de 1341 foi oficialmente declarado magnus poeta et historicus na cidade eterna. Essa coisa de chancela oficial é evidentemente alheia ao labor da poesia; mas que reconhecimento favoreça bons versos, ah, disso eu não tenho dúvida. That's all, folks.


Érico Nogueira é poeta e tradutor. Ganhou o "Prêmio Governo de MG de Literatura" de 2008 comO livro de Scardanelli. Escreve também no Ars Poetica, blogue de poesia. Atualmente vive em Roma, onde desenvolve pesquisa na área de língua e literatura grega.
FONTE : Veja mais no Terra MAGAZINE