Então

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Festival de Cannes volta às origens



Festival de publicidade, fundado há 57 anos por produtores e diretores de filmes comerciais, vai premiar os profissionais que ficam atrás das câmeras


Por Marili Ribeiro

Nunca se exigiu tanto da produção de filmes comerciais como agora, em tempos de comunicação segmentada. Reter a atenção do consumidor para as mensagens publicitárias requer mais do que uma boa ideia desenvolvida pela agência de propaganda. Pede produção cuidada em cada detalhe. O reconhecimento dessa demanda do mercado levou a organização da 57.ª edição do Festival Internacional de Publicidade de Cannes, que será realizado em junho, na França, a criar um prêmio para a turma que rala atrás das câmeras.

A recém-criada categoria Film Craft Lions vai selecionar os profissionais que se destacam na qualidade técnica durante o processo de produção de filmes, desde a qualidade da direção à edição final.

O curioso nessa "novidade" é que o Festival deve sua origem justamente aos produtores e diretores de filmes publicitários. Há 57 anos, eles se reuniam em Veneza, na Itália, para premiar a produção de comerciais. Só em 1984 é que a cidade francesa passou a abrigar o evento. Nos primeiros anos da premiação, a tela de cinema era o espaço nobre da propaganda. Desde então, a televisão roubou a cena e, agora, a internet dá as cartas.

O júri da nova categoria vai ter de avaliar se a execução, durante a gravação do comercial, foi capaz de atribuir valor à ideia proposta pela agência. A habilidade no uso de recursos ? como música e animação ? também será contemplada.

"Publicidade só existe se houver uma grande ideia. Mas, para que essa grande ideia mereça destaque, tem de ter uma realização tão genial que até possa melhorá-la", diz João Daniel Tikhomiroff, presidente e diretor da Mixer Brazil, que será o representante brasileiro no júri da categoria que estreia este ano no Festival de Cannes.

A inglesa Emap, que realiza o evento, vem abrindo vários níveis de premiação no festival. Hoje, há troféus para o design de peças de comunicação, para as ações de relações públicas do anunciante, assim como para anúncios impressos, promoções e, claro, o uso da internet.

"A motivação para a criação de outras categorias é aumentar o faturamento dos organizadores", afirma o diretor de propaganda Pedro Becker, sócio na produtora Fat Bastards. "Mas, ainda assim, o fato de o prêmio existir é positivo para o segmento." Para Becker, a qualidade da produção aumenta na mesma proporção da necessidade de chamar a atenção de um consumidor bombardeado por informações vindas de inúmeras plataformas de comunicação.

A qualidade das produtoras brasileiras, na avaliação de Tikhomiroff, há muito já foi provada. "Há produtoras no País que já ganharam prêmios que as agências de publicidade nunca ganharam em Cannes", diz. É o caso, por exemplo, da própria Mixer, que está por trás de um Titanium, hoje o prêmio máximo do Festival de Cannes. Foi ganho na filmagem da campanha do carro Mini Cooper, para a BMW. Outro caso é o da produtora Zoar Cinema, que levou um Grand Prix na categoria filme publicitário em trabalho para a campanha do Playstation.

Outro movimento que reforça a relevância das produtoras de propaganda é a crescente aposta dos anunciantes em mais conteúdo. "Diante de um consumidor arredio, a mensagem precisa se inserir como entretenimento", explica Tikhomiroff.

Celeiro. A produção de comerciais sempre foi celeiro para formação de grandes diretores. Entre eles estão Ridley Scott, Spike Jonze e Wim Wenders, que, este ano, serão palestrantes no Festival. Vão falar sobre a relevância de fazer publicidade no caminho que os levou aos longas.

"Na publicidade se aprende a ter domínio sobre a síntese, que é fundamental no fazer cinema", explica Tikhomiroff, que também dirige longas. "Temos de contar histórias em 30 segundos e desenvolver técnicas para contá-las com humor ou drama. Isso dá uma prática fabulosa no processo de direção."

Fonte o Estado de São Paulo

Nenhum comentário: