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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Mostra no Vitra Design Museum explora o processo criativo de Frank Gehry


Marcelo Lima, ANTENA

A fachada da Casa Dançante,
prédio de escritórios no centro de Praga,
na República Checa, criado em parceria com Vlado Miluni
 

Ele já emprestou a voz a um personagem num episódio do desenho animado The Simpsons, para sugerir que toda a sua inspiração vinha de uma simples folha de papel amassado. Já criou uma garrafa para um produtor de vodka russa e, reza a lenda, que, recentemente desenhou, via IPhone, um chapéu para a diva pop Lady Gaga. Ao contrário de seus críticos, o arquiteto canadense Frank Gehry Owen nunca pareceu se incomodar com a notoriedade. E, menos ainda, em gerar polêmica.
Laureado com o prêmio Pritzker, em 1989, é considerado hoje um ícone da arquitetura internacional, um starchitect - como se convencionou chamar profissionais que, por meio de projetos nada convencionais, atingiram o status de celebridade (Zaha Hadid e Norman Foster são bons exemplos) - cada uma de suas criações, invariavelmente, acaba por angariar uma multidão de admiradores. E também outra, não menor, de detratores.
De titânio, a fachada do Walt Disney Concert Hall,
sede da Orquestra Filarmônica de Los Angeles
Fortemente imagéticos, seus edifícios, em sua maioria concebidos a partir de matérias- primas pouco usuais, como o titânio, falam de uma outra realidade. De um mundo no qual o sonho da forma pura aparece propositalmente deformado. Do bruto e do inacabado. De formas estruturais sem função. Para alguns, em síntese, as obras mais importantes de nosso tempo. Para outros, uma arquitetura que cede ao espetaculoso e ao midiático, visando se transformar, ela própria, em atração turística.
Nascido em Toronto, em 1929, Gehry cedo se transferiu para os Estados Unidos, onde se graduou em arquitetura. Primeiro de seus projetos construídos, a casa onde mora, em Santa Mônica, na Califórnia, é tomada por muitos críticos como o primeiro exemplar de arquitetura desconstrutivista. Rótulo ainda hoje contestado pelo arquiteto, apesar de o projeto estar alinhado com a corrente arquitetônica dos anos 80.
De papelão corrugado, a seleção dos móveis de Gehry
produzida pela Vitra 
Livre de qualquer rigidez formal herdada do modernismo e afastada de qualquer princípio universal - sobretudo da crença de que a forma, necessariamente, deveria seguir a função -, foi ela, a casa de 1978 onde ele ainda vive, a responsável pelo salto inicial na carreira do arquiteto. Abrindo as portas, por exemplo, para a construção de um edifício com o grau de complexidade da Casa Dançante, de 1996, concebido em Praga, em parceria com o arquiteto Vlado Miluni.
Processo criativo. Focalizando outro ponto de inflexão na carreira do arquiteto - a conclusão do Museu Guggenheim, de Bilbao, na Espanha, em 1997 -, uma exposição, atualmente em cartaz no Vitra Design Museum, na Alemanha, lança novas luzes sobre o processo criativo do arquiteto. Ao todo, a mostra reúne 12 projetos, apresentados não como edifícios isolados, mas analisando também como eles estão inseridos e se envolvem com suas respectivas malhas urbanas.
A maquete do Pavilhão Jay Pritzker, em Chicago,
 é um dos elementos didáticos da retrospectiva
Primeira das constatações: ao contrário do que se supõe, é notável como todo o desconstrutivismo de Gehry se deve muito mais à construção das tradicionais maquetes do que às incontáveis ferramentas digitais de que dispõem os arquitetos de hoje.
Com uma seleção apurada de modelos tridimensionais dos edifícios mais importantes erguidos por Gehry nos últimos 13 anos, a mostra é uma oportunidade única de conhecer todas as etapas da execução de obras como o Pavilhão Jay Pritzker (sala de concerto ao ar livre, em meio a um parque de Chicago) e do Walt Disney Hall (sala de espetáculos já célebre pelo desenho assimétrico de suas fachadas, em Los Angeles). E traz, ainda, a icônica Easy Edges, coleção de móveis de papelão criada por ele nos anos 70.
A maquete do Pavilhão Jay Pritzker, em Chicago,
 é um dos elementos didáticos da retrospectiva
Em última análise, a mostra comprova que, sob a ótica do impacto urbano, as construções do arquiteto canadense estão longe de não cumprir sua função social. Em Bilbao, por exemplo, antes uma cidade quase desconhecida, os visitantes se contam hoje aos milhões. Dois de seus edifícios, construídos em Dusseldorf, na Alemanha, foram decisivos para a revitalização da área portuária da cidade. E alguém ainda duvida de que o Walt Disney Hall vá desempenhar papel decisivo na dinamização da área da baixa Los Angeles? Em se tratando de uma obra de Gehry, não resta dúvida. É esperar para ver.
Frank Gehry, 81 anos



fonte:O Estado de São Paulo

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