Então

quinta-feira, 31 de março de 2011

vazio agudo



Pocket filme/09 - França - Mostra ArtMov
Prêmio Cliente Vivo - ART.MOV 2008
2° lugar na mostra mineira no Animará/2008
Video semifinalista do concurso adobe 2008.

Melancolia e solidão em haikai de Paulo Leminski.

"vazio
agudo
ando meio
cheio de tudo."

Direção, montagem, animação e edição de audio: Cristiane Fariah
conceitos, ilustrações, animação e montagem: Leonardo Arantes
Música: Anger salt (editada)de http://www.soundsnap.com/user/6098

terça-feira, 29 de março de 2011

Patrícia Rizzo interpreta Paulo Leminski




Jovem Pan Online traz o que de melhor existe na poesia brasileira dos últimos anos: Paulo Leminski, interpretado por Patrícia Rizzo, com comentário do Poeta Álvaro Alves de Faria.

terça-feira, 22 de março de 2011

Um país em ruínas = Cristovão Tezza


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Cristovão Tezza


Há algo de atávico na nostalgia rural – nós amamos a ideia de que o campo permitiria uma vida mais “humana”, ainda que no terceiro dia de experiência já dê saudades da internet na veia e do saboroso inferno urbano

A bruxa está solta – terremoto seguido de tsunami no Japão, com o fantasma nuclear soltando fumaça, e chuvas torrenciais por aqui, levando casas, pontes, estradas e vidas. Entre a natureza e a civilização, os bípedes implumes corremos de um lado a outro, no desespero de repor a ordem do mundo e voltar em segurança à rotina. Para dar algum sentido às coisas, há quem busque explicações transcendentes para a tragédia – castigo divino, conspiração dos astros, o peso do destino. Já eu prefiro ficar com os pés na terra, que, dizem, por aqui não treme, ainda que desça o morro com as águas. Nessas situações, vê-se o melhor e o pior – a solidariedade comunitária de um lado, a precariedade das obras, de outro. E a clássica inoperância do Estado brasileiro, com seus bolsões de eficiência agindo mais pela vontade firme de pessoas e comandos do que pelo azeitamento da máquina. Minha sensação, entretanto, é de viver sempre em um país em ruínas – parece que, ao mínimo aperto, nada funciona.
Há uma semana tive de ir de carro a Florianópolis, o que por sorte consegui fazer sem problemas, num dia de estrada liberada; já a volta levou nove horas. Todas as opções de chegar aqui, sempre através da BR-116, eram ruins. A recomendada pela Polícia Rodoviária era muito extensa, mas passava por rodovias maiores e pavimentadas. Preferi me aventurar com um GPS recém-adquirido (não resisto a uma boa traquitana) pelo interior, com suas estradinhas, vacas e bananeiras – de Blu­­­menau, avancei por Indaial, Itaiópolis e Doutor Pedrinho, onde almocei e de onde saí do conforto pegando uns 50 quilômetros de estrada de terra. Foi a melhor parte: silêncio, cavalinhos no campo, hortências à margem, casas perdidas, igrejas, lugarejos e quando muito um ônibus escolar aqui e ali. Por felicidade, o tempo estava bom. Há algo de atávico na nostalgia rural – nós amamos a ideia de que o campo permitiria uma vida mais “humana”, ainda que no terceiro dia de experiência já dê saudades da internet na veia e do saboroso inferno urbano.
Passado o interlúdio sertanejo, em que, desviando dos buracos e fazendo curvas suaves, sonhei uma vida paralela que jamais vou viver, criando galinhas e contemplando araucárias da varanda de madeira pintadinha de amarelo, fui despejado brutalmente na BR-116, onde avancei a passos de cágado espremido entre duas carretas, durante horas. O Brasil inteiro passava pelo mesmo funil naquele triste fim de tarde. Lembrei que, meio século atrás, vim criança para Curitiba exatamente na mesma estrada, então a orgulhosa BR-2, o primeiro asfalto que unia o Sul do Brasil, nos brilhantes anos de JK. Cinquenta anos depois, a estrada continua exatamente a mesma, de mão dupla, com o mesmo traçado, camada sobre camada de licitações e asfalto – e nessa tarde de março de 2011 prosseguia sendo a única opção. A diferença é que agora tem pedágio.
fonte: Gazeta do Povo

segunda-feira, 21 de março de 2011

O delicioso perfume de Emma Bovary





LUIZ FELIPE PONDÉ


A culpa é mais um dos sentimentos difusos que vão do fígado ao coração, escurecendo nossa visão


DE FATO, uma tragédia no Japão! Mas o povo japonês é um grande povo, estoico, maravilhoso, e vai dar uma lição ao mundo, mais uma vez, de como enfrentar a dureza da vida sem frescuras. Confio nos samurais contra esta bela besta-fera que é a natureza.
Claro que o bloco dos 2012 maníacos pelo fim do mundo vai dizer que a "mãe Terra" (que está mais pra Medeia do que pra Gaia) está nos mandando um recado, mas isso é bobagem, a natureza é cega. Não faço parte dos fanáticos "believers da religião verde". Sou um herege. Os "nature lovers" sabem que câncer é natural?
Sou mais dado a assuntos "menores", do tipo que enche o consultório dos analistas e nossas camas sujas.
"O que você acha da culpa e da traição?", me perguntou, outro dia, uma jornalista, um tanto ansiosa. Senti o delicioso perfume de Emma Bovary no ar.
Sei que pode haver culpa, mas o que me espanta mais é a ideia contemporânea de que haja uma "redenção pelo sexo".
Antes de tudo, não entendo a culpa como uma "ideia da consciência moral". Acho que quando a filosofia pensa a culpa como uma "ideia da consciência moral", ela faz má filosofia.
A culpa é mais um sentimento difuso que vai do fígado ao coração, assombrando o cérebro, escurecendo a visão, um zumbido nos ouvidos, que faz do mundo opaco. Uma ameaça que inunda o sangue.
Como uma náusea que não se sabe de qual órgão do corpo vem, nem para qual faculdade da alma se dirige. Um afeto incômodo, mas que faz você sentir que ainda tem corpo e alma, como numa intoxicação que paralisa o cotidiano.
Por isso usamos expressões como "ressaca moral". A culpa inunda o sangue, contaminando-o como faz o vinho, deixando um gosto de borracha na boca e a língua azeda.
Um erro comum é a fantasia de que uma vida sexual "louca" cura a alma de sua insatisfação cotidiana. Não, uma vida sexual "louca" é marca de uma alma louca de desejo. Nada mais. Como qualquer tara, é repetitiva, monótona, banal. Um vício, como o jogo, a cocaína, o álcool. Uma loucura humana demasiado humana, mas não sinal de uma nova atitude libertadora.
Só pessoas que vivem sonhando, pensando na maravilha que seria ser uma Emma Bovary, sem nunca ter pecado, sem nunca sentir o gosto de uma cama suja na boca, imagina que haja redenção no desejo sexual "emancipado".
Não digo isso pra negar o valor de se realizar desejos. Longe de mim a crença na armadilha do velho puritanismo. Deixo o puritanismo para as militantes da "pureza da natureza feminina" e para esses maníacos pela alimentação "sem sangue".
Digo isso para refutar a ideia infantil de que haja redenção no sexo ou em qualquer outra forma do desejo humano.
O ciclo do desejo é um círculo infinito cuja esfera está em toda parte e o centro em parte alguma. Este movimento descreve o sem-fim do inferno humano.
O desejo é sempre triste. Apenas quem não o conhece o julga redentor. A revolução sexual é puro marketing de comportamento. Venda de "estilos e produtos de prazer". Sua verborragia é indício de sua nulidade. Nossos avós faziam sexo melhor do que nós e nossos filhos que se gabam de beijar dezenas numa noite. O pecado é que dá tesão e não a liberdade sexual.
Uma das marcas do ridículo de nossa época é levar os jovens a sério demais. Atitude típica de covarde que foge da responsabilidade de dizer aos mais jovens que não há solução para vida e que tudo o que eles pensam já foi pensado antes deles e melhor.
A vida nasce, é bela, floresce, adoece e morre, sendo esquecida em meio aos vermes. E fazemos o que podemos em meio a isso.
Espanta-me como tanta gente grita dizendo que não vai ter água e comida pra todo mundo. Acho que o que vai acabar antes é a libido diante de tamanha masturbação sobre como ela salva a vida da sensação de nulidade cotidiana. Não vai sobrar libido para todo mundo, já que todo mundo deve ser um campeão do sexo.
Não existe sexo de graça (livre). A forma mais barata ainda é pagar com dinheiro ou um jantar. Daí o sucesso eterno da prostituição, porque sua nudez é ainda a mais em conta. Ou se paga com dinheiro ou com a alma.



fonte:Folha de S.Paulo

quinta-feira, 17 de março de 2011

150 º aniversário da unificação da Itália






Verdi - Traviata




Risorgimento (em português Ressurgimento) é o movimento na história italiana que buscou entre 1815 e 1870 unificar o país, que era uma coleção de pequenos Estados submetidos a potências estrangeiras. Leia mais aqui

segunda-feira, 14 de março de 2011

Vigília - Luiz Felipe Pondé

                                                                                                SAURABH DAS/AP




LUIZ FELIPE PONDÉ 


Existe coisa mais brega do que querer amar a si mesmo? Buscar o amor próprio é totalmente inútil


VOCÊ TEM baixa autoestima? Se sua resposta for "não", provavelmente se enganou.
Por quê? Porque todo mundo tem baixa autoestima por razões óbvias: falta de grana, de afeto, de saúde. E corpo e alma são feitos de grana, afeto e saúde.
Esse tripé é a chave para os aproveitadores do sobrenatural "acertarem" com frequência suas consultas sobre o destino de suas vítimas.
Resumindo a dor humana, tudo cabe nesse tripé. Basta atirar numa dessas razões óbvias, seguindo alguns critérios de como o cliente se apresenta, que a chance de acertar é grande.
Quase sempre o cliente é mulher, dizem os especialistas. Os homens seriam mais céticos. Por quê? Porque, dizem, "almas femininas" são mais dadas a crenças ingênuas. Eu cá tenho minhas dúvidas sobre isso porque conheço mulheres que deixam qualquer assaltante de banco assustado pela frieza com a vida.
Se for jovem, menos chance de ser doença, a menos que seja na família (neste caso, a menina tem que ter uma carinha de madre Tereza de Calcutá, do contrário, o que é mais provável, é quase sempre amor, porque meninas só pensam em meninos, graças a Deus).
Se for mais velha, saúde pode ser uma boa pedida. Mas, se estiver mal vestida, grana pode ser a causa também. Quando falta grana, a saúde normalmente falta também. Ou faltará.
Mas divago. Voltemos à miséria da baixa autoestima.
O mercado da autoestima cresce com livros e treinamentos e conferências para motivação e assertividade. O efeito dura uns dois dias, dependendo do estado de espírito. Se a dor for muito grande, a dependência da autoajuda poderá se tornar um vício.
Eu, que sou um medieval em matéria de natureza humana (afora alguns trágicos modernos), confio mais nos antigos e medievais, justamente porque não temiam ver o ser humano como um miserável em termos de autoestima.
Como o pensamento moderno e contemporâneo é um pensamento "para um mundo melhor", só pode virar autoajuda.
Entre outros, adoro santo Agostinho (354 d.C.-430 d.C.). Meus alunos, moçada de 18 ou 19 anos, da elite econômica, lêem santo Agostinho. Eles discutem pecado, graça, inferno, o Mal, Deus, mito de Adão e Eva e afins.
E sem qualquer um desses "recursos didáticos" inventados para o professor não ter que dar aula ou não ter que entender do assunto.
Quase toda a pedagogia "moderna" é blá-blá-blá. E grande parte dos problemas da sala de aula é fruto da baixa vocação dos professores e do fato de que grande parte dos estudantes não tem nenhuma vocação para aprender qualquer coisa além do que interessa para garantir um lugar no mercado de trabalho.
Inteligência sempre foi uma maldição de poucos e isso nada tem a ver com grana ou com você ser uma pessoa moralmente legal. A falta de grana apenas ajuda a esmagar você mais rápido, o que piora se você for uma pessoa mais sensível.
Baixa autoestima é a regra do mundo. Todo adulto sabe disso. No trabalho, no corpo, na alma. Mas ficou na moda dizer que todo mundo é "maravilhoso!".
Voltando a um dos meus santos favoritos, santo Agostinho. Segundo dizem, ele não era um cara fácil. É sempre assim com os santos: nunca são santinhos.
Entendia de ser humano. Sabia que no fundo da alma habita o medo da tristeza e do fracasso, inevitáveis quando se é mortal (em todos os sentidos do termo).
Ao contrário do que se diz, quando acreditamos nesse blá-blá-blá de "amar a si mesmo", afundamos na miséria da baixa autoestima, porque conhecemos no silêncio de nós mesmos as baixarias que compõem a substância de nossa alma. Dentro de cada um de nós habita um demônio em vigília.
"Autoestima" é um termo contemporâneo, mas cabe bem na reflexão agostiniana sobre a vaidade como prisão psicológica.
Existe coisa mais brega do que querer amar a si mesmo? Amar a si mesmo é vão.
Uma pérola de santo Agostinho para começar sua semana: se você quiser ser livre, ame. Isso aí: não é buscando ser amado que escapamos da miséria da baixa autoestima, mas amando. Qualquer egoísta pode ser amado.
Os melhores dias da minha vida são aqueles em que eu não lembro que existo. 



fonte Folha de S.Paulo

quarta-feira, 9 de março de 2011

As transformações inesperadas na vida e na literatura de Isabel Allende.


Isabel é sobrinha do ex-presidente Salvador Allende e se consagrou uma escritora de prestígio internacional na década de oitenta. Seu primeiro grande trabalho foi “A Casa Dos Espíritos”, lançado em 1982.  O documentário é produzido pela TAL – Televisíon América Latina






      

        

        

        

        

        

        

        





 por facebook dica da Lara Sfair 

terça-feira, 8 de março de 2011

Interesseiros


Se é cada vez mais difícil encontrar uma pessoa interessante no meio de tanta gente igual, por que as deixamos ir embora?
Se é cada vez mais difícil encontrar uma pessoa interessante no meio de tanta gente igual, por que as deixamos ir embora?

Paulo Rebêlo
De Buenos Aires
Nunca sei até onde vale a pena conhecer pessoas interessantes. Fico sempre no limite entre o interesse e o arrependimento.
Porque elas sempre vão conseguir (mesmo sem querer) fazer com que você queira conversar mais, saber mais, olhar mais, admirar mais.
Problema é que o nosso querer "mais" pode gerar duzentas interpretações diferentes. E aí corremos o risco de perder uma grande amizade ou uma grande paixão por causa de uma má interpretação.
Começamos a nos contentar com menos. Cada vez menos.
E menos tempo ao lado dessas pessoas significa menos histórias para conhecer, menos experiências para compartilhar, menos cafés para tomar, menos restaurantes para escolher, menos lugares para visitar e bem menos cervejas e copos de uísque para esquentar toda essa frieza da cidade grande.
É difícil reconhecer quando somos nós com medo de dar um passo adiante ou quando são elas com medo de permitir esse passo.
Veja como é curioso: em geral, por causa de frustrações passadas e nem sempre devidamente enterradas, às vezes basta um elogio mais efusivo ou um abraço mais apertado para transformar duas pessoas inteligentes em dois bobinhos prontos para fugir.
Uma das (poucas) desvantagens de conhecer muita gente e andar por muitos lugares é que você começa a achar que as pessoas interessantes estão sempre de passagem.
É uma espécie de proporcionalidade humana. Às vezes são três dias, três meses ou três anos. Às vezes são três horas até o avião decolar.
No meio da multidão de formigas (e toupeiras) humanas que você encontra diariamente, a proporcionalidade lhe ensina que não se deve deixar uma pessoa assim ir embora tão fácil.
Mas elas sempre se vão. Nem sempre porque deixamos. Às vezes voltam. Às vezes desaparecem como se nunca tivessem existido.
Só o interesse da gente que permanece.
Paulo Rebêlo é jornalista. Site oficial - www.rebelo.org

Imagens que fascinam


Um corpo que cai (Vertigo, 1957), de Alfred Hitchcock
André Setaro

Momentos inolvidáveis proporcionados pela chamada sétima arte. Momentos que ficaram na memória do cinéfilo. Momentos que ajudaram a formar o amante do bom cinema. Momentos inesquecíveis em suma.
1.) Quando Kim Novak sai do toilette já transfigurada em Madeleine, a pedido de James Stewart, é como se uma auréola que se impõe à imagem da mulher, imagem fascinante, que não parece real. Em seguida os dois se beijam e a câmara passa ao espectador a impressão de estar circulando ao redor dos personagens envolvidos no idílio amoroso. Enquanto ela, a câmara, circula, imagens outras aparecem e desaparecem no fundo, imagens do lugar onde Madeleine tinha se atirado. Ao ver Kim saindo, feito Madeleine, Stewart, emocionadíssimo, chega a chorar. A música, brilhante, de Bernard Herrmann, dá o tom adequado e a solenidade auditiva necessária. Um corpo que cai (Vertigo, 1957), de Alfred Hitchcock.
2.) Os travellings se sucedem na mansão, a câmara passeia pelos corredores, investindo na procura de um cinema que se faz como um processo de investigação do universo mental. Delphine Seyrig salta na cama imensa, como se fosse um pássaro numa gaiola dourada. Nas imagens, a incursão na mente. Matéria de memória. O ano passado em Marienbad (L¿anné dernière a Mariebad, 1961), de Alain Resnais. Com roteiro do pai do nouveau Roman, Alain Robbe Grillet.
3.) A suspeita do espectador se faz através do ato criador do artista. Inventor de fórmulas, o artista criador procura sugerir ao invés de mostrar explicitamente. Diferentemente de obras que se apóiam nos efeitos, em que o recurso fácil ao susto é um dos sustentáculos do choque, nos filmes realmente criativos é muito mais a sugestão que encanta e faz suspense. É o ato criador do cineasta utilizando-se dos recursos da linguística fílmica, dos seus elementos constitutivos. Assim, Cary Grant, numa angulação expressionista, sobe a escada, uma grande escada meio circular, com um copo de leite na mão. O espectador suspeita que o leite esteja envenenado e Cary vai matar a mulher. O artista colocou uma lâmpada dentro do copo para fazê-lo mais sugestivo. Suspeita, de Alfred Hitchcock.
4.) O início lembra um clássico antigo do cinema: A turba, de King Vidor. O enquadramento dá idéia do formigamento de um escritório burocrático estadunidense, com suas mesas e máquinas de escrever e muitos funcionários trabalhando. Um simples enquadramento capaz de sugerir um escaldante depósito de homens e máquinas. Se meu apartamento falasse(The apartment, 1960) de Billy Wilder.
5.) No final do Cidadão Kane, morto Charles, o magnata da imprensa, suas coisas, no Palácio de Xanadu, são empilhadas para serem transferidas. Caixotes e mais caixotes, o cineasta faz com que a câmara execute um travelling para mostrar ao espectador a imensidão da herança de Kane. Mas, ao executar otravelling, a impressão que se tem dos caixotes é a de vários arranha-céus de uma grande metrópole. O efeito é perfeito. E a câmara, sempre em travelling, termina por parar numa imensa lareira onde o fogo começa a consumir o trenó de Charles menino no qual está inscrita a tão procurada palavra enigma de Rosebud. Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941), de Orson Welles. 6.) No princípio, apresentando-se como mágico, com cartola e tudo, Welles diz que tudo que vai falar durante uma hora é verdade, mas a partir desta, o que contar a partir de uma hora de projeção de filme, é mentira. Assim, tem-se o relato sobre o falsificador Elmyr De Hory. E depois a história de uma musa que inspirou Picasso. A verdade sobre De Hory verdadeira. A história da musa é pura mentira. Brilhante exercício de cinema, um ensaio sobre a faculdade do artista em deturpar a arte e a realidade. E, principalmente sobre a arte da falsificação. Verdades e mentiras(F for fake, 1975), de Orson Welles.
7.) Quando Manoel mata o fazendeiro latifundiário por causa da exploração, o tom retumbante toma conta do filme com um ritmo de cavalgada que lembra John Ford. Os capangas do fazendeiro investem contra a modesta morada de Manoel, matando sua mãe. O clima é alucinante, com ritmo rápido, envolvente. O cinema se faz pleno. Deus e o Diabo na terra do Sol, 1964, de Glauber Rocha.
8.) Há quem diga que uma das sequências mais bem construídas da história do cinema seja a do concerto do Albert Hall de O homem que sabia demais (The man who know too much, 1954), de Alfred Hitchcock. Os planos, nesta sequência monumental, acompanham as notas musicais que são dadas a ouvir pela orquestra regida pelo próprio Bernard Herrmann, enquanto James Stewart percorre o teatro em busca do suposto homem que irá matar um mandatário de outro país. O toque de címbalo é o momento culminante, o clímax, dessa sequência extraordinária da história da arte do filme.
André Setaro é crítico de cinema e professor de comunicação da Universidade Federal da Bahia (Ufba)

Origens do Dia Internacional da Mulher - Adriana Jacob Carneiro



ADRIANA JACOB CARNEIRO
A proposta de perpetuar o 8 de março como Dia Internacional da Mulher foi feita no ano de 1921, em homenagem aos acontecimentos de Petrogrado
A origem do Dia Internacional da Mulher, data significativa na luta pelos direitos das mulheres, vem sendo distorcida no Brasil e em diversos países. Na cobertura midiática, o dia 8 de março é associado a um incêndio que teria acontecido em 1857 em Nova York e provocado a morte de 129 trabalhadoras têxteis. Elas teriam sido queimadas como punição por um protesto por melhores condições de trabalho.
É importante destacar que houve, de fato, um incêndio, só que em 25 de março de 1911 e de forma diferente da narrada pela imprensa.
As chamas começaram quando um trabalhador acendeu um cigarro perto de um monte de tecidos e alastraram-se rapidamente. As portas das escadas de incêndio estavam trancadas por fora, para evitar que os funcionários saíssem mais cedo. O saldo foi de 146 vítimas fatais, 13 homens e 123 mulheres.
No edifício, funciona hoje a Faculdade de Química da Universidade de Nova York. O incêndio na Triangle Shirtwaist Company foi importante para a melhoria das condições de segurança de trabalhadores como um todo, e não apenas das mulheres, já que também havia homens entre as vítimas.
Um ano antes, em 1910, durante o 2º Congresso Internacional de Mulheres Socialistas em Copenhague, a alemã Clara Zetkin propôs que fosse designado um dia para a luta dos direitos das mulheres, sobretudo o direito ao voto.
Ou seja, o Dia Internacional da Mulher já existia antes do incêndio, mas era celebrado em datas variadas a cada ano.
Para compreender a escolha do 8 de março, remontamos ao dia 23 de fevereiro de 1917, 8 de março no calendário gregoriano. Naquela ocasião, as mulheres de Petrogrado, convertidas em chefes de família durante a guerra, saíram às ruas, cansadas da escassez e dos preços altos dos alimentos. No dia seguinte, eram mais de 190 mil.
Apesar da violenta repressão policial do período, os soldados não reagiram: ao contrário, eles se uniram às mulheres.
Aquele protesto espontâneo transformou-se no primeiro momento da Revolução de Outubro. A proposta de perpetuar o 8 de março como Dia Internacional da Mulher foi feita em 1921, em homenagem aos acontecimentos de Petrogrado.
Mas, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial, em decorrência dos interesses do poder no período, seu conteúdo emancipatório foi se esvaziando. No fim dos anos 1960, a data foi retomada pela segunda onda do movimento feminista, ficando encoberta sua marca comunista original. Em 1975, a ONU oficializou o 8 de março como o Dia Internacional da Mulher.
Para além da distorção dos fatos históricos, um aspecto diferencia fundamentalmente a participação das mulheres nos dois episódios.
No incêndio da Triangle Shirtwaist, a mulher é vítima da opressão dos patrões e do fogo. Já nos protestos de 1917, ocupa uma posição de protagonismo. Encoberto, o fato deixa de mostrar a participação política das mulheres na construção de uma revolução que tem papel importante para a história mundial.


ADRIANA JACOB CARNEIRO, jornalista, é mestranda do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da Universidade Federal da Bahia e pesquisadora em gênero e mídia do grupo Miradas Femininas.
na Folha de S.Paulo

Meninas esta é para Vocês .. Lindas Mulheres ... por Vinícius de Moraes


Elegia Desesperada(O Desespero da Piedade)



Tende piedade da moça feia que serve na vida
 De casa, comida e roupa lavada da moça bonita 
Mas tende mais piedade ainda da moça bonita 
Que o homem molesta — que o homem não presta, não presta, meu Deus! 
Tende piedade das moças pequenas das ruas transversais 
Que de apoio na vida só têm Santa Janela da Consolação 
E sonham exaltadas nos quartos humildes 
Os olhos perdidos e o seio na mão. 
Tende piedade da mulher no primeiro coito 
Onde se cria a primeira alegria da Criação 
E onde se consuma a tragédia dos anjos 
E onde a morte encontra a vida em desintegração. 
Tende piedade da mulher no instante do parto 
Onde ela é como a água explodindo em convulsão 
Onde ela é como a terra vomitando cólera 
Onde ela é como a lua parindo desilusão. 
Tende piedade das mulheres chamadas desquitadas 
Porque nelas se refaz misteriosamente a virgindade 
Mas tende piedade também das mulheres casadas 
Que se sacrificam e se simplificam a troco de nada. 
Tende piedade, Senhor, das mulheres chamadas vagabundas 
Que são desgraçadas e são exploradas e são infecundas 
Mas que vendem barato muito instante de esquecimento 
E em paga o homem mata com a navalha, com o fogo, com o veneno. 
Tende piedade, Senhor, das primeiras namoradas 
De corpo hermético e coração patético 
Que saem à rua felizes mas que sempre entram desgraçadas 
Que se crêem vestidas mas que em verdade vivem nuas. 
Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres 
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade 
Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade 
Que ninguém mais precisa tanto alegria e serenidade. 
Tende infinita piedade delas, Senhor, que são puras 
Que são crianças e são trágicas e são belas 
Que caminham ao sopro dos ventos e que pecam 
E que têm a única emoção da vida nelas. 
Tende piedade delas, Senhor, que uma me disse 
Ter piedade de si mesma e da sua louca mocidade 
E outra, à simples emoção do amor piedoso 
Delirava e se desfazia em gozos de amor de carne. 
Tende piedade delas, Senhor, que dentro delas 
A vida fere mais fundo e mais fecundo 
E o sexo está nelas, e o mundo está nelas 
E a loucura reside nesse mundo. 
Tende piedade, Senhor, das santas mulheres 
Dos meninos velhos, dos homens humilhados — sede enfim Piedoso com todos, que tudo merece piedade E se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim! 


A poesia acima foi extraída do livro "Antologia Poética", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág.73.

segunda-feira, 7 de março de 2011

‘O filho fiel, sempre Mangueira’




Quis o criador me abençoar
Fazer de mim um menestrel
Traço o meu passo no compasso
Dos surdos de primeira
Sou Mangueira!
Trilhei ruas e vielas
Morro de alegria e emoção
Clareando a poesia, respirando harmonia
Me entreguei à boemia
No Buraco Quente, Olaria e Chalé
Com meus parceiros de fé
Traz um violão pro Zicartola e Opinião
Me encontei com seus talentos
Aflora no poeta uma paixão
Passei ‘aquela dor’ venceu espinhos
Amor perfeito em nosso ninho
Que foi desfeito ao luar
Prazer…Me chamam Nelson Cavaquinho
Tatuei em meu caminho
Acordes e notas musicais
Sonhei que folhas secas cobriam meu chão
Pra delírio dessa multidão
Impossível não se emocionar
Chorei…ao voltar para minha raiz
Ao teu lado eu sou mais feliz
Pra sempre vou te amar
Mangueira é nação, é comunidade
Minha festa, teu samba, ninguém vai calar
Sou teu filho fiel, Estação Primeira
Por tua bandeira eu hei de lutar
A Mangueira homenageia Nelson Cavaquinho no enredo ‘O filho fiel, sempre Mangueira’, de Mauro Quintaes e Wagner Gonçalves. O samba é composição de Alemão do Cavaco, Rifai, Baiano, Xavier, Pê, Cesinha Maluco e Ailton Nunes.

sábado, 5 de março de 2011

As empresas ainda fazem pouco pela cultura


Palestra de Eduardo Saron, diretor superintendente do Itaú Cultural com Paulo Nassar, diretor-geral da Aberje
Palestra de Eduardo Saron, diretor superintendente do Itaú Cultural com Paulo Nassar, diretor-geral da Aberje

Paulo Nassar
A gestão cultural empresarial está mudando de uma posição interesseira, embasada somente nos ganhos econômicos que uma corporação e suas marcas poderiam ter como patrocínios de eventos ou programas culturais, para uma atitude mais transcendente, que demonstra na prática o comprometimento empresarial com a cultura cotidiana das pessoas, país ou comunidade onde produzem, comercializam e se desenvolvem. A gestão cultural é muito mais complexa que o gerenciamento de marcas, o branding.
Esta transformação na visão das empresas sobre a administração de patrocínios culturais foi destacada no I Seminário ABERJE de Gestão Cultural: Realidades e Perspectivas, que reuniu no dia 28 de fevereiro mais de 350 pessoas no Grande Auditório do Museu de Arte de São Paulo (MASP) na capital paulista. As exposições de empresas, especialistas brasileiros e internacionais no tema da gestão cultural questionaram a visão, principalmente a empresarial, de investir dentro de uma visão inculta e marqueteira, geralmente encampada por executivos limitados, muitas vezes medíocres, formados em escolas extremamente voltadas apenas para resultados financeiros. Acontece, como foi destacado no Seminário ABERJE, que a sociedade onde as atividades mercadológicas se realizam exige das empresas um comprometimento com tudo aquilo que os cidadãos valorizam no cotidiano: crenças, valores, tecnologia e as artes locais. Enfim, a sociedade vê com bons olhos o alinhamento das empresas com a sua cultura e aqueles que a expressam, os artistas. Em síntese, o território das empresas é cada vez mais pressionado a se aproximar, até se misturar, ao território da sociedade. Nem sempre está aproximação se dá por ações empresariais alinhadas às identidades, missões e visões descritas nos manuais de marketing e branding. Muitas vezes, o que aproxima a empresa da sociedade são as suas ações que patrocinam o que é radicalmente diferente das suas bandeiras corporativas, aquilo que está no campo da alteridade.
Empresas melhores são as que valorizam o Brasil
Uma pesquisa da ABERJE realizada entre os seus associados, todos integrantes do grupo das 1000 maiores empresas que atuam no Brasil, mostrou que apenas 5% têm projetos culturais de médio ou longo prazo. Dentre essas empresas que organicamente estão ligadas às demandas culturais dos brasileiros se destacam um número ínfimo de 15 empresas. Dessas, 11 empresas são de origem nacional e 4 são empresas multinacionais. A maioria dessas empresas está em setores politicamente sensíveis ao controles do Estado e da sociedade, concebidos durante os processos de privatização dos anos 1990, tais como o de energia e telefonia. Dessas empresas, a sociedade exige uma responsabilidade histórica maior e um comprometimento com os destinos do país e de suas pessoas. Outro dado que mostra um alinhamento maior das empresas brasileiras com o país é que, coincidentemente, essas mesmas empresas condutoras de grandes projetos culturais, a maioria com mais de 50 anos de existência, conduzem também os grandes programas de memória e história empresarial realizados atualmente no Brasil. Muitos desses programas são abertos para a visitação e consulta da sociedade e da comunidade acadêmica. Uma ação que reforça a percepção moderna da organização como parceira da sociedade e não como um elemento que explora irresponsavelmente os seus recursos naturais e culturais.
A pesquisa ainda aponta que as ações culturais das empresas multinacionais são de caráter celebrativo, dentro de iniciativas de perfil diplomático-econômico, tais como o Ano da França no Brasil, em 2009, ou ainda no contexto das grandes celebrações corporativas, realizadas quando as empresas celebram os seus aniversários. Um tipo de ação grandiosa que confunde ação cultural com a apresentação de uma grande orquestra sinfônica ou uma exposição pontual de um grande artista.
Por que a maioria das empresas, entre elas um grande número de multinacionais, não apoia ações culturais? A pergunta que já extrapolou o ambiente do Seminário ABERJE de Gestão Cultural demonstra que as áreas de comunicação empresarial precisam reforçar junto às outras áreas de direção empresarial a percepção correta de seus papéis estratégicos e democráticos. Um desses papéis é o de legitimar a organização e as suas atividades - muitas delas produtoras de grande impacto nos ambientes social, econômico, cultural e ambiental - junto à sociedade. Os marqueteiros e os financeiros das empresas precisam entender que na sociedade contemporânea a comunicação empresarial faz muito mais do que vender.
Paulo Nassar é professor da Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (ABERJE). Autor de inúmeros livros, entre eles O que é Comunicação Empresarial, A Comunicação da Pequena Empresa, Tudo é Comunicação