Então

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O Saci



Saci (do tupi sa'sï, onomatopeia do pio do matinta-pereira) é um negrinho com uma só perna, de carapuça vermelha na cabeça, que lhe dá poderes miraculosos. Os elementos do saci e suas armas vêm de muitas paragens e são dos melhores tipos de convergência.
Os cronistas do Brasil colonial não o mencionam. Parece ter nascido no século XIX ou final do XVIII. É conhecido também por Matinta-pereira ou Maty.
Pode surgir como assombração ou visagem, assustando as pessoas. Às vezes torna-se mulher ou se transforma em passarinho assobiador (o saci original, também chamado matinta-pereira). Acredita-se que tenha por companheira uma velha índia ou uma negra mal-ajambrada, cujo assobio arremeda seu nome. É associado com os redemoinhos de vento, que seria uma de suas manifestações.
Amigo de fumar cachimbo, de entrançar as crinas dos animais, depois de extenuá-los em correrias durante a noite, anuncia-se pelo assobio persistente e misterioso, não-localizável e assombrador. Não atravessa água, assim como todos os encantados. Diverte-se criando dificuldades domésticas, apagando o fogo, queimando alimentos, espantando gado, espavorindo os viajantes nos caminhos solitários.

Dia do Saci no Brasil, comemorado no dia 31 de outubro, a fim de promover as figuras do folclore brasileiro, em contraposição ao Halloween. A data foi criada pelo governo do Brasil em 2005, de caráter nacional, elaborado pelo então líder do governo Aldo Rebelo (PCdoB – SP) e Ângela Guadagnin (PT – SP).


O Saci de Monteiro Lobato
O Saci que ilustrou a capa do inquérito de Lobato,de José  Wasth Rodrigues



A imagem atual do saci foi em boa parte definida pelo escritor Monteiro Lobato por ocasião do inquérito realizado em 1917 através do jornal O Estado de São Paulo, que recebeu o nome de “Mitologia Brasílica – Inquérito sobre o Saci-Pererê”. As cartas recebidas vieram de todo o país, mas principalmente de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Os depoimentos foram selecionados e reunidos pelo escritor em livro de 294 páginas e tiragem inicial de dois mil exemplares, publicado no ano seguinte: O Sacy-Perêrê – resultado de um inquerito. Lobato apresentou aos brasileiros um mito com características ora demoníacas, ora cruéis, perpassadas por manifestações de ironia, de deboche e até mesmo laivos de bondade.
José Wasth Rodrigues, autor do desenho do Saci que ilustra a capa, optou por apresentá-lo com chifres curvos, como um demônio. Na cabeça tem o gorro vermelho, olhos também vermelhos e a boca apresentando dentes serrilhados, ponteagudos, vampirescos, numa alusão provável ao hábito do Saci de sugar o sangue dos cavalos. Sua expressão pode ser interpretada como irônica, zombeteira, e até um pouco maléfica. Tem o corpo de adulto, com uma perna só. Os dedos dos pés são apresentados abertos, mais animalescos do que humanos. Também podem ter sido apresentados dessa forma pelo hábito de andar sempre descalço e por longas caminhadas, o que deforma os dedos, engrossando-os e aumentando o espaço de um para o outro. Numa das mãos carrega uma espécie de pau, uma possível arma com que desfere bordoadas tanto em pessoas como em animais. Na outra mão, prende o costumeiro cachimbo aceso, fumegante. Ao seu redor folhas e traços que dão a impressão de movimento circular, como nos rodamoinhos, e também simbolizando o corpo em movimento.
Saci, desenho a nanquim de Monteiro Lobato


Lobato voltou ao assunto na sua obra infantil no livro O Saci, publicado pela primeira vez em 1921, no qual recriou a personagem, suavizando-a. O saci apareceu então com estatura de criança e atitudes brincalhonas, travessas. A história narra desde a chegada de Pedrinho ao sítio, para passar as férias, seu encontro e aventuras com o Saci, até o encantamento de Narizinho, convertida em pedra pela Cuca, e o seu posterior desencantamento. Todos os episódios são mesclados pelo surgir de outros mitos folclóricos, acompanhados da respectiva explicação, muitas vezes pormenorizada pelo próprio Saci, que ocupa o papel de regente principal dos acontecimentos e de herói.
O processo de suavização da imagem do Saci-Pererê é iniciado por Monteiro Lobato no desenho a nanquim de sua autoria que retrata o capetinha numa versão de criança, sem chifres, sem o porrete e com expressão observadora, desconfiada. Não tem mais aquela aparência cruel ou ameaçadora. O pitinho permanece, e os pés adquirem o formato humano.
Além de recriar a personagem, Monteiro Lobato descreve-a, servindo-se do negro velho, Tio Barnabé, personagem do Sítio do Picapau Amarelo, conhecedor dos mistérios que cercam o homem rural. Tio Barnabé assim fala do Saci:
O Saci – começou ele – é um diabinho de uma perna só que anda solto pelo mundo, armando reinações de toda sorte e atropelando quanta criatura existe... Azeda o leite, quebra a ponta das agulhas, esconde as tesourinhas de unha, embaraça os novelos de linha, faz o dedal das costureiras cair nos buracos, bota moscas na sopa, queima o feijão que está no fogo, gora os ovos das ninhadas. Quando encontra um prego, vira ele de ponta pra riba para que espete o pé do primeiro que passa. Tudo que numa casa acontece de ruim é sempre arte do Saci. Não contente com isso, também atormenta os cachorros, atropela as galinhas e persegue os cavalos no pasto, chupando o sangue deles. O Saci não faz maldade grande, mas não há maldade pequenina que não faça.
E segue sua narrativa, comentando o poder da carapuça vermelha, do hábito do cachimbo, das mãos furadas por onde passam pequenas brasas. Falou da maldade que é feita na crina dos cavalos e do costume vampiresco de sugar o sangue dos pobres animais. Para evitar isso, usa-se colocar um “bentinho” no pescoço dos mesmos, protegendo-os. Convém explicitar que os bentinhos são escapulários que contêm gravuras de santos, pedaços de tecidos ou orações com o poder de proteção, benzidos para dar virtude.


Por fim, ensina a Pedrinho como capturar um saci:
"Arranja-se uma peneira de cruzeta e fica-se esperando um dia de vento bem forte, em que haja rodamoinho de poeira e folhas secas. Chegada essa ocasião, vai-se com todo o cuidado para o rodamoinho e zás! – joga-se a peneira em cima. Em todos os rodamoinhos há saci dentro, porque fazer rodamoinhos é justamente a principal ocupação dos sacis neste mundo. Depois, se a peneira foi bem atirada e o saci ficou preso, é só dar um jeito de botar ele dentro de uma garrafa e arrolhar muito bem. Não esquecer de riscar uma cruzinha na rolha, porque o que prende o saci na garrafa não é a rolha e sim a cruzinha riscada nela."

fonte:Fantastipedia



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