Então

sábado, 17 de dezembro de 2011

Morre a cantora Cesária Évora, aos 70 anos




Morreu na manhã deste sábado (17) a cantora cabo-verdiana Cesária Évora, aos 70 anos, no hospital Baptista de Sousa, em São Vicente, Cabo Verde. A notícia foi confirmada pela agência Lusa. A cantora estava internada desde sexta-feira e morreu por "insuficiência cardiorrespiratória aguda e tensão cardíaca elevada."


Em setembro, a cantora sofreu um AVC (acidente vascular cerebral), uma semana depois de anunciar que estava encerrando sua carreira por conta de problemas de saúde.
Em 2004, a cantora ganhou um prêmio Grammy de melhor álbum de world music contemporânea.
Vida e obra
Conhecida como "Diva dos Pés Descalços", Cesária era considerada como a melhor intérprete da "morna", a música folclórica típica de Cabo Verde. "Nossa música é muitas coisas. Alguns dizem que ela é como o blues ou o jazz. Outros dizem que ela é como a música brasileira, ou a africana, mas ninguém sabe realmente. Nem mesmo os mais velhos", disse Cesária em entrevista à Associated Press em 2000.
As canções dela tinham inspiração na amarga história da artista - que perdeu o pai ainda criança - e o sofrimento da população de seu país. Ela se apresentou algumas vezes e no Brasil e, em 2008, abriu a Virada Cultural, em São Paulo (SP).
A cantora sofria há vários anos de diversos problemas e chegou a ser submetida a sérias operações, incluindo uma cirurgia cardíaca em maio de 2010. "Seus novos problemas de saúde acontecem depois de várias operações cirúrgicas a que foi submetida nos últimos anos, entre elas uma operação de coração aberto", disse a gravadora na época do anúncio do encerramento da carreira.
"Não tenho forças, não tenho energia. Gostaria que dissessem aos meus admiradores: sinto muito, mas agora preciso descansar. Lamento infinitamente ter que me ausentar devido à doença, gostaria de dar ainda mais prazer aos que me seguiram durante tanto tempo", disse Évora ao jornal francês "Le Monde" no dia 23 de outubro, após o afastamento dos palcos.
Uol (Com agências internacionais)




sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Se eu fosse eu - Clarice Lispector





Se eu fosse eu


Clarice Lispector 


Quando eu não sei onde guardei um papel importante e a procura revela-se inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase "se eu fosse eu", que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar, diria melhor SENTIR. 
E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser LOCOMOVIDA do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas e mudavam inteiramente de vida. 
Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua, porque até minha fisionomia teria mudado. Como? Não sei. 
Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho por exemplo, que por um certo motivo eu terminaria presa na cadeia. E se eu fosse eu daria tudo que é meu e confiaria o futuro ao futuro. 
"Se eu fosse eu" parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova no desconhecido. 
No entanto tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teriamos enfim a experiência do mundo. Bem sei, experimentaríamos emfim em pleno a dor do mundo. E a nossa dor aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando, porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais.