Então

sábado, 9 de junho de 2012

Morre aos 77 anos o escritor Ivan Lessa, em Londres


Do UOL
Ivan Lessa na redação da BBC Brasil, em Londres
Ivan Lessa na redação da BBC Brasil, em Londres


Escritor e jornalista, Ivan Lessa morreu na sexta-feira (8) de um enfisema pulmonar. Lessa, 77, que morava em Londres desde 1978, era conhecido pelo texto bem-humorado de suas crônicas para a BBC, onde  ele escrevia três vezes por semana.
Segundo o canal "Globonews", a mulher de Lessa, Elizabeth, o encontrou morto em seu escritório, ao chegar em casa à noite. Ao canal, ela disse que Lessa tinha dificuldades para sair de casa devido à doença, mas se recusava a ser internado.
Além dos textos para a empresa britânica, Lessa também colaborava com publicações brasileiras, como as revistas "Playboy "e "Piauí".  Foi um dos fundadores do extinto jornal "O Pasquim", célebre por sua resistência no período da ditadura militar. Ali, com o amigo e cartunista Jaguar, criaram o rato Sig, brincadeira com o psicanalista Sigmund Freud a partir da anedota "Deus criou o sexo, e Freud, a sacanagem". O ratinho virou um dos símbolos do Pasquim.
Filho do também escritor Orígenes Lessa, Ivan foi autor de quatro livros: "Garotos da Fuzarca" (1986), de contos; "Ivan Vê o Mundo" (1999), coletânea de crônicas suas para a BBC; "O Luar e a Rainha" (2005), também de crônicas; "Eles foram para Petrópolis" (2009), que reuniu os e-mails trocados publicamente entre Lessa e o jornalista Mário Sérgio Conti na coluna Correspondência, do UOL.

Última coluna zombava da morte

Em suas crônicas, Lessa costumava fazer piada de si próprio e da doença que o matou. "Um amigo erudito, que ocasionalmente vem visitar meu enfisema..." era o começo de um texto seu de 21 de maio.
Na última crônica para a BBC, inclusive, o escritor ironizava a própria morte. A inspiração, segundo o texto de Lessa, partiu do trabalho de um frasista francês. Confira algumas frases imaginadas por ele sobre sua própria morte:
"- Mas não se mata cavalos e malfeitores?
- Pelo menos eu driblaria o câncer.
- Milênio algum jamais me assustará.
- Apanhei-te horóscopo! Pura enganação!
- Levo comigo a reputação de meu terapeuta.
- Pronto, agora não voto mais mesmo! Chegou!
- Aí está: uma cura definitiva para a calvície.
- Enfim, ano bissexto nunca mais. Esses ficam para o Jaguar. O resto pro Ziraldo.
- Só quero ver quanta gente vai sincera no meu funeral.
- Pronto! Inaugurei estilo novo: Arte Morta.
- Custou, mas estou acima de qualquer lei que vocês bolarem aí.
- Levou tempo, mas cortei enfim meu cordão umbilical.
- Que desperdício nunca ter fumado em minha vida!
- Maioria silenciosa? Essa agora é comigo.
- Na verdade, nunca me senti à vontade nessa posição incômoda de cidadão do mundo.
- Agora é conferir se, do outro lado, sobraram tantas virgens assim."

sexta-feira, 8 de junho de 2012

O mundo não é preto e branco, e sim colorido. Vamos falar de sexo?








Na época da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo sempre aumenta a minha percepção do quanto nós somos desinformados sobre a nossa própria sexualidade. E terreno sem informação é fértil para o brotar o preconceito e a discriminação, principalmente entre aqueles que acham que a vida é um preto e branco maniqueísta, homem e mulher, macho e fêmea e o resto é doença. Ignoram que há outras cores no meio do caminho que, por sua vez, podem ser tão específicas que apresentem tonalidades únicas e individuais. Sim, na prática, cada um tem sua própria cor. Assustador e maravilhoso isso, não?

Por isso, pedi para Claudio Picazio, psicólogo especialista em sexualidade, um texto que fosse didático para ajudar aos leitores deste blog a entenderem a questão. Ele não encerra o tema, claro. Muito pelo contrário, é um bom ponto de partida.

Para entendermos a sexualidade e por uma questão didática, vamos analisá-la sobre quatro aspectos diferentes e interligados: Sexo Biológico, Identidade Sexual, Papeis Sexuais e Orientação Sexual do Desejo. Repito essa divisão é didática, pois todos os aspectos se entremeiam, formando dentro de nós aquilo que chamamos identidade de gênero.
Sexo Biológico: Biologicamente falando quantos sexos existem? Dois, masculino ou feminino. Quando nascemos pelas características que nosso corpo possui, somos registrados como macho ou fêmea. Essa afirmação parece simplista e óbvia, mas não é bem assim, quando falamos de sexo masculino ou feminino estamos nos referindo às características dos órgãos sexuais e a predominância que este tem no nosso corpo.
Muitas pessoas nos anos 70, por uma questão de distinção ou até modismo, começou a chamar a homossexualidade de terceiro sexo. Isto não é verdade, só confundiu. Biologicamente falando, homens hetero, bi e homossexuais não têm a menor diferença, assim como as mulheres hetero, bi e homossexuais. Portanto, quando uma pessoa fala popularmente que um gay não é homem, esta incorreto, o gay é tão homem quanto qualquer outro, a única variação é por quem o seu desejo sexual se orienta. Há exceções, é claro. Por exemplo, uma pessoa hermafrodita nasce com uma dupla formação de características dos seus órgãos sexuais masculinos e femininos.
Identidade Sexual: Vamos definir como sendo o aspecto de onde guardamos a nossa certeza do que somos. Quando nascemos, somos registrados como menino ou menina. A partir daí somos tratados como tal e incoporamos a sensação de pertencemos a um gênero. Acreditamos que somos menina ou menino: a forma de como somos tratados é tão importante como o nosso sexo biológico para a formação da nossa identidade sexual. Mas a nossa identidade sexual não depende tanto do nosso corpo para se manter. Ele é importante para seu desenvolvimento, mas a sensação de quem somos é muito maior, e muito mais profunda do que o nosso corpo pode dizer.
Papeis Sexuais: Vamos entender como papeis sexuais, todos os comportamentos definidos como maneirismos, atitudes e expressões daquilo que chamamos de masculino e feminino. Papeis sexuais são variados de cultura para cultura de sociedade para sociedade e estão em constante transformação. Aquilo que era considerado há 20 anos como exclusivamente ao papel feminino, hoje também pode ser considerado do masculino. As mudanças sociais e econômicas, o movimento feminista permitiu uma flexibilidade e mudança das posturas rígidas de ser masculino ou feminino. Um exemplo: o uso de brincos por homens.
Ainda temos muito enraizado em nós os papeis sexuais e a analise que fazemos destes para julgar o outro. Uma mulher que não se identifique muito com os papeis femininos típicos, tenderá a ser “diagnosticada” pelos outros como lésbica. Mas papeis sexuais não determinam desejo erótico e sim ações e atitudes que incorporamos. Um garoto que não goste de futebol e de nenhum esporte violento, será interpretado como “mulherzinha, gay”. Pensando nesse exemplo, estamos dizendo que um homem heterossexual de verdade tem que ser violento assim como uma mulher heterossexual de verdade tem que ser passiva e meiga. Já estamos estabelecendo uma divisão entre os gêneros complicada, porque incentivamos um comportamento na criança que mais tarde brigaremos muito para retirar. Na verdade encontramos homens heterossexuais e gays violentos, assim como encontramos homens heterossexuais e homossexuais que não são violentos e nem se adaptam a essa postura.
Orientação Sexual do Desejo: Muita gente utiliza “opção sexual”, o que não é nada correto quando falamos da sexualidade. Quando falo em “opção” estamos falando em escolha e para ser considerada uma escolha teríamos que ter duas ou mais coisas de igual significado ou valor para quem escolhe. Se desejo erótico fosse opção teríamos que sentir desejos tanto por homens quanto por mulheres da mesma forma. Isso não acontece por ninguém. Nenhum de nós parou um certo dia, para pensar quem desejaria. Acredito que muitos gostariam que assim o fosse, por que isso o permitiria flexibilizar, variar, e não sofrer julgamentos e preconceitos tão doídos de serem combatidos. Dizemos Orientação Sexual do Desejo pois nosso desejo se orienta para um determinado objeto amoroso. Não optamos e sim percebemos o nosso desejo erótico, descobrimos algo que já parece instalado em nós.
O desejo erótico não é influenciável como se imagina ser. Se o fosse não existiram gays e lésbicas. A nossa sociedade é heteronormativa. Tudo que existe nela é feito pensando na heterossexualidade. Pais e mães educam seus filhos para a heterossexualidade. O preconceito social, a homofobia e as religiões ainda são muitos fortes na sua postura contra a homossexualidade. E mesmo com tudo isso os homossexuais não se influenciam pela heterossexualidade.
“Desejo sexual” é parte fundamental da orientação afetivo sexual, ao passo que uma “atitude sexual” pode existir interdependentemente da orientação do desejo. Por exemplo, na época da Segunda Grande Guerra muitas mulheres tinham relações sexuais entre si, assim como muitos homens, no campo de batalha. Estas mulheres sentiam falta de seus companheiros, a orientação de seu desejo era claramente voltada para homens, mas relacionavam-se sexualmente com outras mulheres. As mulheres motivadas por um desejo de descarregar a sua energia sexual. Com a volta de seus companheiros, essa atitude automaticamente deixava de existir.
Em muitos casos, homossexuais que não querem viver a sua orientação, vão à procura de igrejas, e/ou profissionais que estimulam atitude sexual desses homossexuais. Esses gays tentam viver anulando o seu desejo erótico e tendo somente atitudes sexuais heterossexuais. A dor psíquica é muito grande.
Muitos meninos têm uma relação que se chama “troca-troca” que está longe de ser considerada homossexualidade. Um dos motivos é porque para a maioria o objeto desejado internamente é uma pessoa do outro sexo. O que há é um exercício de sexualidade, um descarrego de energia que está vibrando nos corpos com toda a sua força e é vivido com um(a) colega. Em suma, todo ser humano pode ter uma atitude sexual com qualquer dos sexos, mas seu desejo interno, a libido, é o determinante de uma conduta homo, hetero ou bissexual.
O que seria então a bissexualidade? A bissexualidade não é termos uma atitude sexual por uma pessoa e um desejo erótico por outra. A bissexualidade é um fenômeno que algumas pessoas têm de desejar afetiva e sexualmente tanto homens como mulheres. Não podemos falar que um bissexual optou por homens ou por mulheres. Não escolhemos, conscientemente, por quem nos apaixonamos, assim como não escolhemos por que vamos desejar eroticamente.
Concluindo: podemos dizer que o desejo erótico, ou ele é homo, por uma pessoa do mesmo sexo que o nosso, hetero por uma pessoa do sexo diferente do nosso, ou bissexual que é o desejo erótico pela pessoa do mesmo sexo ou do sexo oposto.
E a Travestilidade e a Transexualidade, como se comportam? Uma pessoa hetero ou homossexual tem a sua identidade sexual correspondente ao seu sexo biológico. Uma travesti tem a sua identidade dupla, ou seja, ela se sente homem e mulher ao mesmo tempo. O leitor deve se lembrar quando falamos de identidade sexual? A sensação de pertencimento à identidade sexual feminina e masculina da travesti é o que lhe garante mais do que o desejo, a necessidade de adequar o seu corpo aos dois sexos que sente pertencer.
A Travestilidade também não é opção, muitas pessoas crêem erroneamente que a travesti é um gay muito afeminado que resolveu virar mulher. Além de simplista esta afirmação esta recheada de equívocos. Uma travesti diferente do gay tem uma identidade dupla: masculina e feminina. Uma travesti pode ter papeis sexuais tanto masculino como feminino, pois como já dissemos anteriormente esse é um processo de identificação com valores e costumes da sociedade. Quanto ao desejo erótico, uma travesti pode ser homo, hetero, ou bissexual.
A maioria delas se intitula homossexuais, mas não é bem assim. Quase a unanimidade dessas travestis sente-se mulher. Na grande maioria do tempo, elas não desejam eroticamente o seu amigo gay, elas desejam um homem típico heterossexual. Portanto se uma pessoa se identifica, sente-se mulher e sente atração por um homem, o seu desejo é heterossexual. Portanto a maioria das travestis tem o desejo heterossexual. Uma relação homossexual de uma travesti seria com uma outra travesti.
A Transexualidade, caracteriza se pela identidade sexual ser oposta ao sexo biológico é como se a sua “alma” fosse do sexo oposto do que o seu corpo a condena. A necessidade de correção do corpo para a identidade sentida se faz urgente. Muitos Transexuais se mutilam para poder fazer a cirurgia de adaptação genital. A força da identidade sexual é a tônica na construção da nossa identidade de gênero. Uma transexual também pode ser homo, hetero ou bissexual.
Para quiser se aprofundar, sugiro o livro “Uma outra verdade – Perguntas e respostas para pais e educadores sobre homossexualidade na adolescência”, de Claudio Picazio pela Editora Summus. A leitura é fundamental. Talvez com informação possamos inverter uma lógica perversa. Quando alguns pais “descobrem” que o filho é gay ou a filha lésbica, recebem suporte emocional de parentes e amigos. Mas deixam sozinhos seus filhos, que têm que passar sozinhos pela fase de sua própria descoberta. Isso é justo?

Os darwinistas estavam errados - por Rafael Garcia



Rafael Garcia


QUANDO UM JUIZ AMERICANO da cidade de Dover, na Pensilvânia, deu ganho de causa a um grupo de pais que processava uma escola pública por ensinar conceitos criacionistas a seus alunos, cientistas comemoraram. Apesar de ter ocorrido em em um tribunal local, o julgamento vinha sendo coberto por vários jornais dos Estados Unidos, e havia a expectativa de que a vitória, obtida em 2005, fosse se refletir na opinião pública reduzindo a influência de movimentos religiosos conservadores que tentavam sabotar o ensino da teoria da evolução no país.
Os biólogos que defendiam Darwin, porém, estavam errados em esperar um recuo dos criacionistas. Uma pesquisa de opinião divulgada na semana passada pelo Instituto Gallup mostra que, sete anos depois, 46% dos americanos acreditam que Deus criou a espécie humana do nada. O número é o mesmo de 30 anos atrás, quando o levantamento foi feito pela primeira vez.
O que os professores de biologia se perguntam agora é: o que pode ser feito? Por que as pessoas são tão refratárias à ideia da evolução por seleção natural? Por que esforços educacionais e as incontáveis obras de divulgação científica sobre o assunto têm sido inócuas na tentativa de manter o fundamentalismo religioso longe da ciência?
No Brasil, por enquanto, é difícil projetar a tendência de crescimento do criacionismo. Umapesquisa do Datafolha feita dois anos atrás mostra que 25% da população acredita na versão bíblica da origem da humanidade. Não sei se há dados mostrando quantos mais acreditam no “design inteligente”, a teoria criacionista que evita falar em Adão e Eva, mas defende o mesmo ponto.
Num país onde a educação ainda é um direito mal assegurado, dá medo. Muita gente confia que o curso natural da cultura humana fará com que ela abrace a ciência cada vez mais, mas nem sempre é assim. Um exemplo de que retrocessos ocorrem veio da Coréia do Sul, na semana passada. O país não apenas deixou de repelir a influência criacionista na educação como também aceitou demandas de religiosos para expurgar Darwin dos manuais de biologia.
A falta de pesquisas de opinião sobre criacionismo ainda torna difícil avaliar o problema em escala global, mas eu me arrisco a dizer que biólogos e educadores sérios, hoje, estão perdendo essa guerra.
Não vou discutir aqui o mérito de grupos conservadores em conseguir espalhar o evangelho do criacionismo. É inútil tentar convencer o inimigo de que sua causa é nociva. Mas acredito que nós, divulgadores da ciência, estejamos cometendo alguns erros.
Primeiro, não são julgamentos espetaculosos em tribunais que vão resolver esse tipo de problema. Cientistas já tinham tentado isso uma vez, em 1925, quando o professor de biologia John Thomas Scopes violou uma lei do estado do Tennessee que proibia o ensino de evolução. Scopes foi absolvido em última instância, mas com uso de uma manobra técnica (o primeiro juiz aplicara uma multa ilegal). O julgamento acabou com os biólogos cantando vitória, enquanto os criacionistas se consideraram “campeões morais”.
É necessário que haja segurança jurídica para o ensino da evolução, sim, mas suspeito que juízes e suas sentenças não têm o poder de mudar a cabeça das pessoas. Logo, acredito que aquilo que está faltando aos professores de ciências é uma estrutura mais proativa para fazer estudantes de fato entenderem de que se trata a evolução. A praga criacionista cresce no terreno fértil do analfabetismo científico. Ironicamente, talvez os educadores tenham algo a aprender com a tática de guerrilha dos grupos criacionistas, que atuam de forma descentralizada para espalhar suas ideias.
Segundo, é preciso evitar que o combate ao criacionismo se transforme numa cruzada contra a religião em si. Transformar o ensino de evolução em patrulha ideológica só vai fazer com que a rejeição a Darwin aumente. Richard Dawkins, possivelmente o maior porta-voz da luta anti-criacionismo no mundo, adotou essa abordagem ao escrever “Deus, um delírio” em 2006. O livro fez muito barulho ao ser lançado no mesmo ano de “Deus não é Grande“, do ensaísta Christopher Hitchens.
Sou bastante cético quanto ao potencial que tais autores têm de converter a turba criacionista. Particularmente, acho incômodo o fato de os dois textos basearem sua argumentação na crença de que a religião torna o mundo um lugar pior para se viver. Não é isso o que a própria ciência diz, e as evidências estão na maior revisão de estudos de sociopsicologia da religião já feita sobre o assunto, publicada em 2008 na prestigiada revista “Science”.
Para resumir, então, acredito que o combate ao criacionismo se beneficiaria de uma atitude mais ponderada dos biólogos. É preciso explicar que a teoria da evolução não está em conflito com uma compreensão religiosa mais sofisticada sobre a natureza, e não se pode embutir a pregação ateísta no ensino da biologia, porque a evolução não se trata disso. Além disso, é preciso mobilizar forças fora do âmbito oficial para dar fôlego ao ensino da biologia. Por que há tão poucas ONGs de educação se dedicando ao problema? Suspeito que as iniciativas para ensinar evolução fora do ambiente escolar estejam em falta. Quantas cidades têm o luxo de possuir um museu de história natural? Os criacionistas já estão começando a se mobilizar para montar osmuseus deles. Os biólogos precisam esperar o dinheiro do Estado para ampliar suas ações?
Não há como combater a ignorância sem investir na educação como um bem coletivo, e não há como frear o dogmatismo religioso tentando impor o ateísmo na marra. Se existe um desejo inconsciente dos cientistas de que todos se tornem ateus, talvez ele se realize num mundo onde as pessoas tenham bom repertório cultural e se sintam livres para pensar. Não vejo outro caminho.

Rafael Garcia, 37, é colaborador da Folha em Washington (EUA). Formado em jornalismo pela USP (Universidade de São Paulo), foi bolsista do programa Knight de jornalismo científico no MIT (Massachusetts Institute of Technology) e editor-assistente na redação brasileira da revista “Scientific American”.

Relatório desaparecido por 147 anos conta morte de Lincoln




O testemunho de um jovem médico que correu para socorrer Abraham Lincoln, quando o presidente dos Estados Unidos foi assassinado em 1865, acaba de ser encontrado nos Arquivos Nacionais de Washington, depois de ter ficado "desaparecido" por 147 anos.
A cópia das 21 páginas de um relatório do médico militar Charles A. Leale, com 23 anos na época, foi descoberta por uma pesquisadora da associação "Documentos de Abraham Lincoln", Helena Ilhas Papaioannou, entre centenas de caixas de arquivos dos serviços médicos do Exército, anunciou a associação dedicada à obra escrita do 16º presidente dos Estados Unidos.
Charles Leale, formado em Medicina seis semanas antes do atentado, indicou em um depoimento escrito poucas horas depois do fato que ele se encontrava naquele 14 de abril de 1865 no Teatro Ford, em Washington, a cerca de 10 m de distância do presidente.
"A apresentação da peça Our american cousin (Nosso primo americano) seguia agradavelmente o seu curso, quando, de repente, ouvimos claramente um tiro. Um minuto depois, vimos um pequeno homem saltar (do camarote) no palco", escreveu o médico que desconhecia até então a identidade do assassino, John Wilkes Booth.
"Houve gritos: 'O presidente foi assassinado!', e depois 'Matem o assassino'", contou o jovem médico, que foi "levado às pressas para o camarote". "Assim que a porta se abriu e eu entrei, fui apresentado à Sra. Lincoln que disse: 'Oh doutor, faça o que puder por ele, faça o que puder'. Eu respondi que faríamos o nosso melhor", escreveu.
O jovem, o primeiro médico a chegar, descreve em seguida, de maneira muito clínica, o estado do presidente, como ele localizou a bala em sua cabeça e pediu por "água oxigenada e água". Os médicos oficiais chegaram ao local e decidiram levar Abraham Lincoln para uma casa próxima, onde "colocamos o presidente na diagonal em uma cama, que era muito pequena", escreveu Charles Leale.
Após examinar o ferimento, "nada mais foi feito, além de impedir a coagulação do sangue", prossegue o relatório, relatando o pulso intermitente do presidente e sua respiração cada vez mais difícil. "Às 7h20, ele deu seu último suspiro e sua alma voou para Deus", acrescenta a testemunha.
Para Daniel Stowell, diretor da associação, "este relatório é notável porque é um testemunho feito naquele mesmo momento, de maneira comovente. Podemos sentir como Leale e outros médicos sentiram-se impotentes, mas, ao mesmo tempo, não afundaram no sentimentalismo", disse.
Abraham Lincoln (1809-1865), um dos presidentes americanos mais admirados - e o primeiro a ser assassinado - foi eleito algumas semanas antes do início da Guerra de Secessão e morto cinco dias após o fim oficial do conflito entre o norte e o sul.
Ele permanece na história como aquele que assinou a emancipação dos negros, que levou à abolição da escravatura. O assassino John Wilkes Booth, morto a tiros duas semanas depois pelo exército, era um defensor do sul.
Charles Leale enviou, em julho de 1867, uma cópia do seu relatório, escrito pela mão de um secretário, para a comissão da Câmara dos Deputados encarregada de investigar o ataque, e nada mais foi dito sobre ele. Apenas uma alusão foi feita em 1909, 44 anos depois, em um discurso para marcar o centenário do nascimento do presidente assassinado. O relatório está dosónível no site da instituição..
fone:TERRA

sábado, 2 de junho de 2012

QUANDO FOI A ÚLTIMA VEZ QUE VOCÊ FEZ ALGO PELA PRIMEIRA VEZ?





E ai, pensou quando foi a última vez que você fez alguma coisa pela primeira vez? Não é fácil, não é mesmo? Na rotina do nosso dia-a-dia, buscamos terminar as tarefas a fim de conseguir realizar alguma atividade prazerosa também. No entanto, as atividades que buscamos geralmente são as mesmas. Por que será?
Buscamos o mesmo, o conhecido, o certo, pois saber o que nos espera, saber o resultado de uma ação, o gosto de uma certa comida, é reconfortante. O estranho, o novo geralmente não é bom. Pode até ser interessante, mas o novo geralmente causa medo, receio, angústia.
Dificilmente uma criança gosta de mudar de escola. Para muitos, começar um novo emprego é algo excitante e, ao mesmo tempo, amedrontador. É algo comum as pessoas se hospedarem sempre na mesma rede de hotéis e, até mesmo na hora de trocar de carros, ficar com a mesma marca por anos.
Mudar, fazer algo novo envolve riscos, envolve disposição. É preciso motivação, estímulo e dedicação para conseguir sair do piloto automático em que vivemos a nossa vida, para escolher outro caminho.
Li em um artigo da FastCompany que muitas pessoas estão tentando sair um pouco da rotina e tentar coisas novas, porém estão encontrando mais dificuldade do que esperado. A ideia por trás disso tudo é a seguinte. A maioria das pessoas está tentando se beneficiar das promoções de compras coletivas comprando itens que normalmente não compraria, mas pelo valor atrativo, resolvem comprar. Ou seja, talvez eu nunca pularia de asa delta, mas por 50 reais, vale a pena, não é mesmo? Ou quem sabe, por 30 reais seja a minha chance de fazer uma tatuagem, ou experimentar uma aula de salsa, ou mesmo fazer uma massagem com vinho.
O motivo das mudanças não estarem dando certo, de acordo com as pesquisas do artigo, é que as pessoas estão tentando ser quem não são. Estão tentando mudar drasticamente suas personalidades, seus estilos. Nem sempre as mudanças precisam ser tão drásticas. O novo, não precisa ser tão diferente assim, pode, mas não precisa. Pequenas ações na nossa rotina podem ser modificadas e assim mudamos um pouco o nosso comportamento e oportunizamos novas descobertas. Querem ver um exemplo simples?
Ontem mesmo, saindo do supermercado encontrei diversos carrinhos deixados atrás de carros, cujos motoristas teriam uma desagradável surpresa ao retornar das suas compras. Custa levar o carrinho de volta ao seu destino? Aparentemente custa.

Se você é uma dessas pessoas, quem sabe da próxima vez, tente algo novo, e leve o carrinho de volta. Esse minuto a mais, não o atrapalhará, você não irá perder uma reunião ou algo pior. Quem sabe até não encontra alguém interessante no caminho? Dê chance ao acaso, permita que o imprevisível aconteça. Iniciamos o segundo semestre do ano, se dê de presente algo novo. Faça algo pela primeira vez, ainda hoje se possível.
Aline Jaeger