Então

sábado, 30 de março de 2013

O Velho e o Mar com trilha do Buena Vista Social Club





Animação em aquarela "O Velho e o Mar" com trilha do Buena Vista Social Club

O documentário "O Dia que Durou 21 Anos" (2012) chega aos cinemas





O documentário "O Dia que Durou 21 Anos" (2012) chega aos cinemas nesta sexta-feira, dia 29, quase dois anos após sua exibição na "TV Brasil". O SRZD já assistiu e fala um pouquinho sobre o que você pode esperar do longa dirigido por Camilo Tavares, filho do jornalista Flávio Tavares, exilado no período da ditadura militar.
Pai e filho assinam o roteiro deste documentário que mostra como o governo americano exerceu um papel importante no Golpe Militar de 1964, que depôs João Goulart. O longa conta ainda o temor do presidente John Kennedy, e também de seu sucessor, Lyndon Johnson, de que o Brasil se tornasse uma nova Cuba.
"O Dia que Durou 21 Anos" é um documentário interessante, com bons depoimentos e bem montado, mas dá a sensação de que poderia ter apostado num tempo de duração maior para que pudesse se aprofundar mais no assunto, extraindo mais informações de seus entrevistados.
Na verdade, tudo é apresentado de forma apressada, principalmente na segunda metade que mostra o governo de Castelo Branco, o AI-2 e o AI-5. Mesmo assim, vale a pena assisti-lo para conhecer um pouco mais sobre a história do nosso país.

SRZD.


Leia também ==>

Documentário 'O Dia que Durou 21 Anos' busca papel dos EUA no golpe de 1964



ESTREIA DIA 29 MARCO 2013 NOS CINEMAS!!!

SÃO PAULO - Espaço Itaú / Reserva Cultural / RIO DE JANEIRO: Circuito Estação
BRASÍLIA - Espaço Itaú / Cine Cultural Liberty Mall / PORTO ALEGRE - Espaço Itaú
CURITIBA - Espaço Itaú FLORIANÓPOLIS - Cine Spaço/ SALVADOR - Espaço Itaú / Sala de Arte /

terça-feira, 26 de março de 2013

Mário Lago no MPB Especial




"Atire a primeira pedra", por Mário Lago





"Faz como eu", por Mário Lago


"Aurora", por Mário Lago


"Menina, eu sei de uma coisa", por Mário Lago


"Nada além", por Mário Lago


"Dá-me tuas mãos", por Mário Lago


"Que tem você", por Mário Lago


"Leva meu coração", por Mário Lago


"Poleiro de pato é no chão", por Mário Lago


"Devolve", por Mário Lago


"Fracasso", por Mário Lago


"É tão gostoso seu moço", por Mário Lago


"Faz de conta", por Mário Lago


TV Cultura

quarta-feira, 20 de março de 2013

Morre o cantor Emílio Santiago, aos 66 anos.


R.I.P.


http://oglobo.globo.com/cultura/morre-no-rio-cantor-emilio-santiago-7890607

Dies Irae - Fábio Campana





Há um clamor de Dies Irae. E eis que coisas estranhas acontecem. Um meteoro atingiu a terra e outros ameaçam o planeta. Pássaros revoam desorientados. Peçonhas atacam lideradas pelas aranhas marrons.
O papa Bento XVI renuncia ao trono de São Pedro. Os cardeais da Igreja Católica, em luta pelo poder, deixam que os fiéis saibam de roubos, sacrilégios e pedofilia.
Disse João. Tens, porém, isto: que odeias as obras dos Nicolaítas, as quais eu também odeio.
Os templos da medicina são conspurcados.
A médica de face assombrosa, chamada Virgínia, é presa e acusada de matar os pacientes no Hospital Evangélico.
Outro hospital de nome santificado, o São Vicente, nega socorro ao homem ilustre que lhe bate à porta, baleado três vezes por assaltantes.
Sinais da besta entre nós.
A mulher que defende a liberdade é atacada nas ruas pela turba enfurecida de talibãs da esquerda nativa.
Yoani Sánchez sorri diante dos algozes que a insultam e agradece o momento da liberdade que gostaria para seu povo enclausurado em Cuba.
Os íncubos têm mil disfarces e simulações e se sucedem sem perder o mando.
Na ilha, o ditador Raul Castro anuncia que deixará seu trono manchado de sangue e o poder que herdou do irmão, Fidel.
Em Curitiba, um grupo comemora o aniversário de Kim Jong-Il, o ditador coreano que se autoproclamou eterno e que fechou seu país e sua população para o mundo na ditadura mais cruel que sobrevive no planeta.
A blasfêmia dos que se dizem e não o são, mas são a igreja de Satanás. Falam o que não fazem e negociam o voto.
O poder volta às mãos dos ímpios. Os senadores reelegem os que foram derrubados por corrupção.
Ergue-se o partido dos miseráveis de espírito, que retribuem aos líderes a filantropia do ogro. O PT comemora 33 anos de vida e 10 de poder com festas, discursos e pirotecnia. Seu líder diz que elegeu um poste e que reelegerá Dilma, sua fiel sucessora.
Confirmam-se os sinais. O arrebatamento das igrejas. Pastores que tomam o dízimo dos humildes e fazem fortuna porque exploram a fé.
O princípio das dores é transgredido. Eis a abertura dos selos. Clamor dos mártires. O Anticristo governa. Os juízes punem a palavra e refocilam nos palácios. Anjos derramam taças sobre a terra. Oficiais de Justiça batem à porta. Amigos traem.
E coisas estranhas ainda acontecem e me fazem náufrago num mar de apreensões.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Fumo branco: já foi eleito o novo Pontífice



Temos Papa, saiu fumo branco por volta das 19.00 horas. Aguarda-se agora o anuncio do nome do novo Pontifice e primeira aparição para a saudação aos fiéis. 
*

Começa pelo Sínodo de Jerusalém, relatado no livro dos Actos dos Apóstolos (15, 14-17):
Tiago tomou a palavra e disse: “Irmãos, escutai-me. Simeão contou como Deus, ao princípio, se dignou intervir para tirar dentre os pagãos um povo que fosse consagrado ao seu nome. E com isto concordam as palavras dos profetas, conforme está escrito: depois disto, hei-de voltar a reconstruir a tenda de David, que estava caída; reconstruirei as suas ruínas e erguê-la-ei de novo a fim de que o resto dos homens procure o Senhor, bem como todas as nações que foram consagradas ao Meu nome, diz o Senhor, que dá a conhecer estas coisas desde a eternidade”.

O Evangelho de Lucas nos diz: “Eu estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22.24-27): isto faz compreender o significado bíblico da eleição de um Papa por parte do Colégio dos Cardeais. A Igreja não pode estar em Cristo sem Pedro, sua rocha e cabeça, mas também Pedro nunca é um líder solitário ao vértice de uma pirâmide; ele é “o primeiro” e a cabeça dos Onze e “dos outros que estão com eles” (Lc 24,33); ele é o centro de uma “comunhão” de homens, organicamente orientada unicamente ao seguimento do único “Príncipe dos Pastores” (1Pt 5,4), o pastor de todos os pastores do povo de Deus. Deste Príncipe dos Pastores ele é “o sacramento visível” em cada momento da história, e portanto temporâneo. Por isso, Pedro define-se sempre com “os outros” e os outros à volta de Pedro. 

HABEMUS PAPAM: Papa Francisco I. O cardeal arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, que escolheu o nome de Francisco



É o cardeal Jorge Bergoglio o novo Papa, escolhido pelos cardeais eleitores para suceder a Bento XVI, que renunciou ao ministério petrino. .Francisco foi o nome adotado. A eleição ocorreu à quinta votação, na sequência da primeira que teve lugar ontem, terça-feira, dia do início do Conclave e das quatro votações desta quarta-feira. Ao contrário do que muitos pensavam, tratou-se, também desta vez, de um Conclave breve, apenas com mais uma votação do que aquele que teve lugar há 8 anos e que levou ao pontificado o cardeal alemão Joseph Ratzinger, Bento XVI, para suceder a João Paulo II. Mesma duração também na eleição do cardeal Eugénio Pacelli, Pio XII. 

terça-feira, 12 de março de 2013

Política e religião: entre o mal e o bem




“O desejo de saber o porquê e o como chama-se curiosidade, e não existe em qualquer criatura viva a não ser no homem. Assim, não é só por sua razão que o homem se distingue dos outros animais, mas também por esta singular paixão”, afirma Hobbes.[1] A curiosidade humana pressupõe uma atitude crítica diante dos fatos, dos discursos e das ideologias que interpretam-nos. Trata-se uma postura de ruptura com o maniqueísmo, o sectarismo e o dogmatismo que tomam a sua verdade como a verdade absoluta.
O olhar curioso não se contenta com a divisão do mundo em polaridades absolutas, entre o mal e o bem; é um olhar que coloca em suspenso as nossas certezas, os nossos preconceitos e os princípios que geralmente aceitamos como dados para a análise da realidade. Esta é muito mais complexa do que os fáceis raciocínios esquemáticos e próprios dos que se vêem como profetas e guardiões do bem, da palavra e do livro sagrados, contra o outro, o qual representaria o mal.
Embora sejam esferas autônomas da ação humana, política e religião se mesclam tanto no que diz respeito ao quanto aos recursos práticos. Na verdade, a política não pode prescindir plenamente da religião e, em certas circunstâncias, o discurso religioso cumpre uma função claramente política. Dessa forma, o dissidente político passa a ser tratado como o herege, merecedor de todas as punições; os que não aceitam o poder político imperial e hegemônico passam a ser classificados como representantes das forças do mal; os que defendem a ordem social vigente não titubeiam em demonizar os seus oponentes; o mal é incorporado no outro. A linguagem maniqueísta transforma o bem em mal e vice-versa. Pois o que representa o paraíso para uns, pode ser o inferno para outros. Nesta senda, a política é pensada como a luta entre o bem e mal.
A modernidade pretendeu romper as amarras da superstição e da ignorância e instituir a razão; pleiteou a separação do Estado das amarras da moral religiosa e do poder espiritual representado pelas autoridades eclesiásticas. Maquiavel advogou que a ação política tem um status próprio e diferente da moral religiosa. A ação política busca resultados; o estadista, ao contrário do profeta, é julgado por sua eficácia. O florentino observa que, do ponto de vista da política, o mal e o bem não são absolutos; o mal pode se transmutar em bem, e vice-versa. Cabe ao estadista ter a sabedoria (virtù) para usar o mal e o bem conforme a necessidade. Como afirma Maquiavel, “o tempo arrasta consigo todas as coisas e pode transmudar o bem em mal e o mal em bem” (1977: 20).

A lógica da força

Referir-se ao bem e o mal nos leva a um aspecto negligenciado e/ou objeto de polêmica: a violência na política. Os gregos ensinaram que a política é a esfera da pólis, o que pressupõe argumentação e discussão de idéias. Hannah Arendt observou que a política, isto é, o poder político, se refere ao coletivo, pressupõe consenso e se legitima no consentimento do povo. “O poder e a violência se opõem: onde um predomina de forma absoluta, o outro está ausente”. (ARENDT: 1973: 30)
Porém, se é verdade que o poder, em sua essência, se distingue da violência e que não se sustenta única e exclusivamente pelo recurso a esta, também é fato que o poder não prescinde da violência e recorre à mesma sempre que necessário. Como escreve Bobbio:
“O que caracteriza o poder político é a exclusividade do uso da força em relação à totalidade dos grupos que atuam num determinado contexto social, exclusividade que é o resultado de um processo que se desenvolve em toda sociedade organizada, no sentido de monopolização da posse e uso dos meios com que se pode exercer a coerção física” (1992: 956).
O monopólio da coerção física é a condição sine qua non da soberania do Estado moderno. Essa tese, compartilhada por marxistas e liberais, concebe a política como uma atividade cujo locus e referência é o Estado. Foucault expressa a voz dissonante nessa maneira de ver a política. Para ele o poder está difuso pela sociedade: “A questão do poder fica empobrecida quando é colocada unicamente em termos de legislação, de Constituição, ou somente em termos de Estado ou de aparelho de Estado” (1979: 221). O poder se manifesta em todos os aspectos da vida humana, em todos os níveis da sociedade, interligados ou não ao Estado. Na concepção foucaultiana, o poder impregnou o próprio corpo, encontra-se exposto neste.
Chega a ser preocupante como a santa ingenuidade e/ou a ignorância quanto aos fatos históricos resultam em um moralismo abstrato no que se refere à presença da violência na política. As boas consciências ficam estupefatas e até demonstram um certo mal estar quando se confrontam com esta realidade histórica. “Mas como pode ter sido assim?”, se perguntam; e terminam por debitar tais eventos à sanha pelo poder deste ou daquele indivíduo, desconsiderando-se o processo histórico e, inclusive, a realidade presente.
A política, para o bem ou para o mal, não prescinde da violência. A ascensão política da burguesia exigiu rupturas fundadas no recurso à guerra e à revolução; do ponto de vista econômico, não foi diferente: a burguesia precisou expropriar violentamente os camponeses e transformá-los em mão-de-obra livre, isto é, prisioneiros do sistema industrial enquanto trabalhadores assalariados. A revolução industrial consumiu, literalmente, milhares de corpos, em especial as mulheres e crianças. O progresso da civilização encontra-se estreitamente vinculado ao sangue de milhões, vítimas da expansão colonialista e da escravidão.[2] Eis o pecado original da burguesia ou “o segredo da acumulação primitivo” desvendado por Marx em O Capital.[3]
Que seria dos poderosos e suas nações sem o extermínio de populações inteiras? Por acaso as duas grandes guerras mundiais, o holocausto, o nazismo e o stalinismo, são obras apenas da irracionalidade humana desvinculadas dos interesses políticos e econômicos em permanente disputa? Foi a lógica da força que se impôs.
Eis a outra face da política: a força materializada na violência em toda a sua crueldade. Este fator, por mais bárbaro que se apresente, não é estranho à ação política. Maquiavel, analisando os exemplos históricos do seu tempo, observou como o uso da violência aberta resultou em determinados casos em fracasso e noutros em sucesso. A que se deve esta diferença? Ele responde:
“Creio seja isto conseqüência de as crueldades serem mal ou bem praticadas. Bem utilizadas podem ser chamadas aquelas (se bem se pode dizer do mal) feitas de uma vez só, pela necessidade de prover sua própria segurança, e depois são relegadas à margem tornando-se o mais possível em vantangens para os súditos. Mal utilizadas são as que, se bem sejam a princípio poucas, não se extinguem mas crescem com o tempo.” (Maquiavel, 1977: 54)

Política e religião

A violência está presente em nosso cotidiano – inclusive assumindo formas dissimuladas. Ela reina na periferia das grandes cidades, envoltas numa guerra civil diária não assumida pelas autoridades; ela é prevista e legitimada no poder político, isto é, constitui uma das funções do Estado, mesmo o democrático. Qual Estado pode abrir mão do recurso da coerção e de todos os meios necessários para forçar os cidadãos a obedecer a ordem dominante?
Tudo isso parece não existir para determinados indivíduos que vivem no mundo das nuvens e reduzem as contradições sociais à eterna luta do bem contra o mal. Como que num transe coletivo, mas que paradoxalmente objetiva a salvação individual, estes guardiões da moral e dos bons costumes adotam uma postura apolítica e voltam-se para o intimismo. São profetas bem intencionados que constroem a cidade de Deus, isto é, cuidam das suas almas. As questões sociais que assolam este país passam ao largo. Sobram discursos que garantem audiência e, por trás da histeria coletiva e individual, cada um busca sua própria salvação, ainda que afirmem amar ao próximo! Eles se aglomeram e oram, mas se limitam ao individualismo egoístico espiritualizante.
Ledo engano! A individualização das soluções para problemas terrenos, sociais, econômicos e políticos, deslocados para um plano transcendental e intimista também cumpre um papel político: alivia a pressão e funciona como uma espécie de anestesia coletiva. Afinal, este intimismo religioso não questiona a realidade social desigual e desumana, nem inquire sobre os responsáveis por tal situação. Induz ao conformismo! Que se entregue à divindade o bônus e o ônus! Ele assim o quis, assim o será! Que as coisas permanecem como estão; a nossa recompensa está no além. Essa mensagem de resignação é mais antiga do que parece. [4] Ontem como hoje, os poderosos agradecem a tais profetas.
Eis como a religião no mundo atual adentra na política: afastando-se desta ou procurando instrumentalizá-la em nome de uma moral fundamentalista. Esta postura individualista e/ou conservadora é a resposta aos que vêem na religião uma força que deve se aliar à política para construir o reino de Deus aqui na terra, mas numa perspectiva coletivista e que pressupõe uma opção política pelos pobres e oprimidos.
O senso comum diz que religião e política não se discutem. Pelo contrário, precisamos refletir sobre a relação entre violência e política e, por outro lado, entre estas e a religião. Um simples olhar sobre a história da humanidade evidenciará a simbiose existente entre política, religião e violência. Como podemos esquecer, por exemplo, a barbárie dos ‘santos inquisidores’ de ontem e de hoje, uns em nome de Deus, outros em nome da razão do Estado? E o horror da noite de São Bartolomeu? Que seria dos conquistadores da nossa América se não utilizassem os recursos da Santa Madre? Seria a violência política suficiente para subjugar os povos dessas terras? E não foi a religião o cimento ideológico que justificou barbaridades como a escravidão do negro e a submissão secular da mulher? O puritanismo protestante foi empecilho para a dizimação dos povos indígenas na América do Norte? E as risíveis cenas, se não fossem trágicas, de religiosos, de um e outro lado, santificando exércitos em guerra?
Gostemos ou não, política, violência e religião entrelaçam-se em diversos contextos históricos. Há mesmo determinadas circunstâncias onde estão de tal forma amalgamados que é difícil distinguí-los. Assim, a luta entre o Parlamento e a Coroa inglesa no século XVII parece, ao estudioso desavisado, simples disputa religiosa entre puritanos, anglicanos e católicos. O mesmo podemos observar quanto ao conflito histórico entre protestantes e católicos na Irlanda e entre palestinos e israelenses no oriente médio. Em ambos os casos, fatores político-sociais secularmente sedimentados e influenciados pelas mudanças na política internacional produziram realidades complexas com problemas aparentemente insolúveis fora do recurso à violência. E mesmo quando busca-se uma solução pacífica, resultante das pressões políticas internas e externas dentro de uma nova realidade internacional, a violência não está descartada. E tudo parece uma disputa religiosa...
Os exemplos são muitos. Podemos encontrá-los inclusive em nossa história. Para não nos alongarmos, lembremos apenas que nossa frágil democracia conheceu poucos períodos onde pôde desenvolver-se pacificamente. Na República Velha, a oligarquia cafeeira tratou a questão social como caso de polícia e teve que enfrentar a revolta armada da classe média da época: o movimento tenentista. Esse movimento gerou a ‘Revolução de 30’, um ato violento que, entre outras coisas, fecundou o Estado Novo. Na ditadura estadonovista de Vargas, cristãos que simpatizavam com os americanos ou com os nazi-fascistas se uniram contra o inimigo comum, identificado com o próprio demônio na terra: o comunismo. A política, de novo, recorreu aos valores morais-religiosos para justificar o regime de exceção e a repressão.
Na segunda metade dos anos 40 tivemos a ilusão democrática da legalidade para os comunistas. Parecia então que o demônio fora exorcizado. Sabemos o final desta história: nova onda repressiva, ilegalidade, clandestinidade. A democracia da guerra fria, em nome da liberdade e dos valores democráticos, inverte a ordem dos valores: antidemocráticos são os outros, os comunistas. Dessa vez, porém, não precisou recorrer à religião (pelo menos não diretamente).
Em 1964 a religião foi novamente utilizada na cruzada contra os esquerdistas — o que na época significa avanços das lutas dos trabalhadores. As madames católicas saíram às ruas em marcha fortalecendo a base social golpista; a cúpula da Igreja silenciou e/ou apoiou os golpistas. Mas, também é verdade que setores minoritários dessa mesma Igreja adotaram uma postura corajosa e favorável aos explorados e oprimidos, contra o golpe militar, pela democracia e por uma sociedade justa e igualitária. De qualquer forma, política, violência e religião mesclam-se.
Política e violência unem-se ainda na resistência ao golpe. De um lado a repressão militar, as torturas, os desaparecimentos de filhos e filhas da nossa terra; de outro, a ilusão de que o povo enfrentaria em armas a ditadura militar impulsionado pelo exemplo da sua vanguarda. Às mães e pais desses jovens que sucumbiram nas garras do aparato repressivo estatal e paraestatal restaram a dor e a triste realidade de quem nem tem o corpo querido sobre o qual chorar. Para os que professam a fé restava o consolo da religião.
A democracia que temos foi regada com sangue. Não podemos esquecer o passado. Temos a obrigação de legar às futuras gerações uma história que, quando muito, é tratada nos livros e bancos escolares. Lembremos dos que, com erros e acertos (mas só erra quem age) dedicaram a vida ao povo, ao sonho de uma vida melhor para os excluídos da cidadania. Ontem tratados como terroristas, hoje como subversivos e outros epítetos. Seus nomes são vários. Lembremos de dois: Carlos Marighella, assassinado pela ditadura em 04 novembro de 1969; e, Santo Dias, assassinado pela polícia sob o governo Maluf em 30 de outubro de 1979. Um, guerrilheiro e comunista; outro, operário metalúrgico, militante da Pastoral Operária. Eis a política, a violência e a religião em ação...

A política para além do bem e do mal

O pensamento de Niccóllo Machiavelle pode ser criticado por tudo, menos por ser maniqueísta. Isso significa que a política deve ser pensada em sua realidade concreta – que exige meios nem sempre abonados pela moral – e não de maneira descritiva. Se é próprio aos filósofos contemplativos proporem o reino da justiça e da felicidade humana como uma utopia a ser alcançada, sociedades existentes apenas em suas cabeças, o homem de ação não pode se dar ao luxo de pautar-se pela idealização do real. Neste aspecto, Maquiavel é realista e antiutópico:
“E muita gente imaginou repúblicas e principados que jamais foram vistos e nunca tidos como verdadeiros. Tanta diferença existe entre o modo como se vive e como se deveria viver, que aquele que se preocupar com o que deveria ser feito em vez do que se faz, antes a prende a própria ruína do que a maneira de se conservar; e um homem que desejar fazer profissão de bondade, mui natural é que se arruíne entre tantos que são perversos” (1977: 86-87)
Os que imaginam a política prisioneira da moral, de noções como o bem e o mal, ou são ingênuos ou hipócritas.[5] Os primeiros parecem acreditar que o mundo é habitado por anjos e demônios e não por seres humanos, com qualidades e defeitos inerentes à sua humanidade e também com interesses opostos uns aos outros e propensos à discórdia. Os homens competem, desconfiam uns dos outros e buscam o poder e a glória. Somos ainda mais ingênuos e/ou hipócritas quando tentamos isolar a política do cotidiano, como se no dia-a-dia, independente de participarmos da política, não competíssemos e não buscássemos segurança e reputação. Usando um termo que está na moda, esta atitude é uma forma de blindagem: os maus são os outros, os políticos; a boa consciência do indivíduo passivo e apolítico expressa a sua pretensão à pureza, à santidade; precisamos demonizar os políticos para justificar nossa passividade e descomprometimento diante dos dilemas sociais e humanos que envolvem o viver em sociedade.
A política não pode prescindir da moral. Em outras palavras, por mais laico que seja o Estado, os políticos também serão avaliados pelos valores fundados em preceitos morais e religiosos. Sua sabedoria consiste em saber usar isto a seu favor e contra os seus adversários. Assim, é cada vez mais comum a presença da linguagem religiosa no discurso político. Mas se temos algo a aprender com a história é precisamente o fato de que o mundo dividido entre o bem e o mal é uma ilusão. É certo que esta é uma estratégia eficiente para o arrebanhamento de prosélitos, mas é ineficiente para os que almejam compreender a realidade política e social para além do bem e do mal. Afinal, o mal e o bem é inerente ao humano, seja ele político ou profeta!
Palavras quase conclusivas...
A política não é o império do mal; nem muito menos a religião expressa o bem absoluto. Se a primeira instrumentaliza o mal e o bem e, neste sentido, sacraliza-se; a segunda, na medida em que não pode se ausentar completamente do mundo real, institucionaliza-se e têm interesses materiais a defender, politiza-se. Nisso, ambas utilizam o discurso do bem e do mal. Política e religião são manifestações sociais legítimas; podem referenciar ações humanas que mantém ou transformam a sociedade – e uma se apóia na outra em seus objetivos. Porém, quando prisioneiras de raciocínios maniqueístas, tendem a gerar fanatismo e intolerância. Nestes casos, à ingenuidade e ignorância soma-se a cegueira. Também aqui, temos muito a aprender com a história; uma história que não se resume à identificação de mocinhos e bandidos, do bem e do mal...

[1] Thomas Hobbes. Leviatã. São Paulo: Abril Cultural, s.d,. p. 39 (Os Pensadores)
[2] “Se o dinheiro, segundo Augier, “vem ao mundo com manchas naturais de sangue em uma de suas faces”, então o capital nasce escorrendo por todos os poros sangue e sujeira da cabeça aos pés” (MARX, 1985:292).
[3] “Essa acumulação primitiva desempenha na Economia Política um papel análogo ao Pecado original na Teologia. Adão mordeu a maça e, com isso, o pecado sobreveio à humanidade. Explica-se sua origem contando-a como anedota ocorrida no passado. Em tempos muito remotos, havia por um lado, uma elite laboriosa, inteligente e sobretudo parcimoniosa, e, por outro, vagabundos dissipando tudo o que tinham e mais ainda. A legenda do pecado original teológico conta-nos, contudo, como o homem foi condenado a comer seu pão com o suor de seu rosto; a história do pecado original econômico no entanto nos revela por que há gente que não tem necessidade disso. Tanto faz. Assim se explica que os primeiros acumularam riquezas e os últimos, finalmente, nada tinham para vender senão sua própria pele. E desse pecado original data a pobreza da grande massa que até agora, apesar de todo seu trabalho, nada possui para vender senão a si mesma, e a riqueza dos poucos, que cresce continuamente, embora há muito tenham parado de trabalhar” (Idem, 261).
[4] Rosa Luxemburgo, em “O Socialismo e as Igrejas”, analisou como a instituição se tornou dominante e, neste sentido, ligada à dominação. Nesta trajetória, a instituição teve que negar suas origens e adotar um discurso que, já naquela época, mascarava as verdadeiras causas dos males sociais: O clero, falsificando o primitivo ensinamento do Cristianismo que tinha por objetivo a felicidade terrena dos humildes, tenta hoje persuadir trabalhadores de que o sofrimento e a degradação que suportam não provêm duma estrutura social defeituosa, mas sim do céu, da vontade da “Providência”. Assim a Igreja mata nos trabalhadores a força, a esperança e o desejo dum futuro melhor, mata a fé em si próprios e o respeito por si mesmos. Os padres de hoje, com seus ensinamentos falsos e venenosos, mantêm continuamente a ignorância e a degradação do povo.”
[5] “Aqueles que virtuosamente condenam Maquiavel geralmente o detestam por pregar o que eles próprios praticam, e ainda mais, por descrever o que praticam”, escreve HOWE (1998:25)

Docente na Universidade Estadual de Maringá (UEM), membro do Núcleo de Estudos Sobre Ideologia e Lutas Sociais (NEILS – PUC/SP) e Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo

Referências Bibliográficas:
ARENDT, Hannah. Da Violência. In: Religião e Sociedade 15/1 1990, p. 142- 150. (Ver: Da violência, capítulo de Crises da República, São Paulo, Editora Perspectiva, 1973 (Coleção Debates)
BOBBIO, Norberto. Política. Brasília: Editora da UnB: 1992. In: BOBBIO, Norberto, MATTEUCCU, Nicola e PASQUINO, Gianfranco.Dicionário de Política. Brasília: Editora da UnB: 1992 (Volume 2).
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro, Edições Graal, 1979 (Organização, tradução e introdução de Roberto Machado), pp. 209-227 (O olho do Poder)
HOBBES, Thomas Hobbes.Leviatã. São Paulo: Abril Cultural, s.d. (Os Pensadores)
HOWE, Irving. A Política e o Romance. São Paulo: Editora Perspectiva,1998.
LUXEMBURGO, Rosa de. O Socialismo e as IgrejasRevista Espaço Acadêmico, 17, Ano II, outubro de 2002.
MACHIAVELLI, Niccolò. O Príncipe. São Paulo: Hemus, 1977.
MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Nova Cultural, 1985 (Os economistas - Volume II)

fonte ; Revista Espaço Acadêmico - n°52- setembro 2005

sexta-feira, 8 de março de 2013

'O Gênio das Multidões' - Charles Bukowski




Cena do documentário "Born Into This", de 2003. Neste vídeo Bukowski recita seu poema "The Genius Of The Crowd". Legendado em português pelo blog Velho Bukowski.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Brilhante o discurso do Mia Couto.





Um comentário; Brilhante o discurso do Mia Couto. Fina ironia. Impressionante a forma como ele desconstrói o tema da segurança: de um modo aparentemente despretensioso, vai desmontando, um a um, todos os mitos da ordem estabelecida. As metáforas e a antíteses são desconcertantes, haja vista a reação do público. Parece até que ele consegue demonstrar empiricamente a tese de que “há quem tenha medo de que o medo acabe”.

sábado, 2 de março de 2013

1964: Um golpe contra o Brasil = Documentário mostra que ditadura não foi iniciativa apenas de militares





O documentário 1964 - Um Golpe contra o Brasil, realizado pelo Núcleo de Preservação da Memória Política e dirigido por Alipio Freire, estreia hoje (2) no Memorial da Resistência, museu que ocupa o antigo prédio do Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops), próximo à Estação da Luz, no centro da cidade. Com linguagem didática, a obra esclarece pontos que, na opinião do diretor, vêm sendo deixados de lado nos estudos sobre o regime militar.
“Nos preocupa muito que as pessoas sejam extremamente solidárias com os resistentes, em termos do fato de terem sido presos e torturados, mas que não saibam exatamente contra o que eles resistiam. Porque a história oficial é um terror”, destacou Freire.
Uma das ideias que o filme tenta desconstruir é a de que a ditadura foi uma iniciativa apenas dos militares. “Acabar com essa lenda de que o golpe foi militar. Não foi de uma corporação, foi de uma classe: do grande capital internacional e de seus associados dentro do Brasil contra um projeto nacional desenvolvimentista”, assinala Freire.
“Não era nem um projeto socialista, era um projeto de desenvolvimento nacional, autossustentado, baseado na distribuição de renda e com uma política externa independente”, explica o diretor sobre o projeto de João Goulart, que foi descontinuado com o golpe que o retirou da Presidência.
O filme é uma narrativa dos fatos que levaram ao golpe e à ditadura que comandou o país de 1964 a 1985. O período escolhido pelo diretor começa com a nomeação de Jânio Quadros e vai até a eleição do marechal Castello Branco, em abril de 1964. Segundo Freire, o objetivo é “mostrar quem deu o golpe, porquê deu o golpe, a serviço de quem estavam. O papel dos Estados Unidos dentro disso tudo. O mundo polarizado da Guerra Fria como pano de fundo”.
Para contar a história foram feitas mais de 20 entrevistas com pessoas que atuavam politicamente naquele tempo e que resistiram ao golpe, como a jornalista Rose Nogueira, o líder sindical Derly José de Carvalho e o ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Aldo Arantes. Os depoimentos pessoais servem, de acordo com o diretor, para estruturar uma narrativa sobre os fatos retratatos. “Não há memória individual. Ninguém é o centro do vídeo. O centro do vídeo é a história do Brasil naquele momento”, enfatiza Freire.
Também foram consultadas mais de uma dezena de fontes para reunir as imagens que compõe o filme. São usadas fotos e vídeos do Arquivo Público de São Paulo, do Insituto João Goulart, do Arquivo Nacional, dos arquivos na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Estadual de Campinas, entre outros.
Após a primeira exibição, o documentário passará a ser divulgado por movimentos sociais e será feita uma versão seriada. A divisão em capítulos tem o objetivo de facilitar a exibição em redes de TV ou o uso como material didático. -Texto da Agência Brasil